i16 11 SBCAT UlfSchuchardt NotíciaO Prof. Ulf Schuchardt nasceu em Bad Sooden-Allendorf, na Alemanha, em 1946, e obteve seu diploma de bacharel em química na Universidade Philipps, de Marburg, em 1969. Em 1973, recebeu seu doutorado em Química de Coordenação do Boro na Universidade Ludwig-Maximilians München, completando sua formação com um pós-doutorado no Max-Planck-Institut für Kohlenforschung (Mülheim-an-der-Ruhr). No MPI, Prof. Ulf lançou os primeiros fundamentos das reações de ciclização catalisadas por paládio. No início de 1976, aceitou uma oferta para ser Professor Associado do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), onde viria a orientar 48 alunos de mestrado e 42 de doutorado.

No Brasil, iniciou uma pesquisa de vanguarda sobre a utilização de biomassa lignocelulósica e dos óleos vegetais. Já nos anos 80, publicou artigos seminais sobre a liquefação e hidrólise da biomassa lignocelulósica e a transesterificação de óleos vegetais. Com a pesquisa dedicada à produção de biodiesel, recebeu o Prêmio Governador do Estado de São Paulo, em 1982. É surpreendente que, aproximadamente 20 anos antes das primeiras plantas industriais para produção de biodiesel na Europa, o Prof. Ulf já estava iniciando uma pesquisa inovadora sobre catálise heterogênea para a produção de biodiesel.

Outra linha de pesquisa de muito destaque do Prof. Ulf foi no campo da oxidação catalítica da fase líquida. Nessa área, desenvolveu novos sistemas catalíticos para oxidação seletiva do cicloexano, um tópico de relevância contínua. De fato, o trabalho do Prof. Ulf abrangeu diversos tópicos, envolvendo tanto a catálise homogênea quanto a heterogênea, e foi guiado pelo desenvolvimento e síntese racional de catalisadores, desenvolvimento de reatores e estudo de condições reacionais. Devido a sua sólida formação, o Prof. Ulf desenvolveu sua pesquisa na interface da química e da engenharia química e, assim, semeou diversos grupos de pesquisa em catálise homogênea e heterogênea no Brasil e no exterior.

Devido as suas excelentes contribuições para a ciência brasileira, o Prof. Ulf foi eleito membro da Academia Brasileira de Ciências. Também foi homenageado pela Sociedade Brasileira de Química, mais de uma vez: em 2006, foi homenageado com uma sessão coordenada específica e em 2011, foi agraciado com a Medalha JBCS. Em Razão dos seus 70 anos, foi homenageado com um Special Issue no Journal of Molecular Catalysis A (https://www.sciencedirect.com/journal/journal-of-molecular-catalysis-a-chemical/vol/422/suppl/C).

O Ulf foi sócio fundador e um grande entusiasta da Sociedade Brasileira de Catálise. No seu grupo de pesquisa, participar do CBCat era quase que obrigatório. Durante o evento, andava agitado entre corredores e salas procurando os amigos para conversar e matar a saudade. Entre comentários provocadores e discussões ponderadas, ia fazendo amigos, colecionando admiradores e ensinando seus alunos. Seu último CBCat foi o 19°, em Ouro Preto, quando foi indicado como membro honorário da SBCat. No 20° CBCat não quis ir, disse que queria viajar, fazer coisas não relacionadas à química. “Pede desculpa para todo mundo, tá? Não fiquem bravos comigo”.

O Prof. Ulf nasceu na Alemanha, mas toda vez que era indagado sobre a origem do seu sotaque, dizia “Sou Brasileiro”. E, de fato, tinha alma brasileira. Faleceu no Brasil na noite do dia 11 de fevereiro de 2020, próximo dos que gostava. Seu exemplo de retidão e amor pela ciência brasileira continuam vivos e inspiram todos os membros de sua família científica espalhada pelo Brasil e exterior.

 

14 10 SBCAT 2020 quemsomos NotíciaRoberto Fernando de Souza nasceu em Caxias do Sul, em 14 de novembro de 1958. Concluiu a graduação em Engenharia Química na Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1981. Foi durante a sua graduação que o Roberto teve seus primeiros contatos com a pesquisa e com a área da Catálise, sendo estudante de iniciação científica da Profa. Yeda Pinheiro Dick na área da catálise enzimática. Ainda na UFRGS, obteve o título de Mestre em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais em 1983 sob orientação dos Professores Adalberto Vasquez e Yeda Pinheiro Dick. O Instituto de Química tendo como objetivo criar uma linha de pesquisa em Catálise, devido à recente instalação do Polo Petroquímico, elegeu, junto com uma comissão externa que estabeleceu metas para o futuro do Instituto de Química, que Roberto fosse fazer estudos de doutorado na França. Defendeu sua Tese em Catálise pela Université Paul Sabatier, Toulouse, França, em 1987, sob a orientação do Dr. Igor Tkatchenko. Com a Tese veio o primeiro de muitos reconhecimentos de excelência: O Prêmio de melhor Tese, CNRS - França.

Foi aprovado no Concurso para ser Professor do Departamento de Físico-Química, Instituto de Química, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1986, antes mesmo de concluir seu doutorado.

Ao retornar ao Brasil, em 1987, trouxe com ele, a também Doutora em Catálise, Profa. Michèle Oberson de Souza, sua esposa. Juntos construíram uma linda família biológica (Maxime e Pierre) e outra grande família científica (da qual me orgulho muito de fazer parte). O então Prof. Roberto recebeu o laboratório onde é atualmente o Laboratório de Reatividade e Catálise (LRC) vazio e nele instalou uma excelente estrutura para Pesquisa em Catálise. Formou diversos Mestres e Doutores, sendo estes, atualmente, Professores/Pesquisadores distribuídos pelo Brasil e também no exterior.

Em 1994, realizou um pós-doutorado no Instituto Francês do Petróleo, Rueil-Malmaison, França, sob supervisão o Dr. Yves Chauvin, iniciando suas Pesquisas em Líquidos Iônicos.

Foi co-fundador e Presidente da Sociedade Brasileira de Catálise, Presidente da Câmara de Pós-Graduação da UFRGS, Diretor do Instituto de Química da UFRGS e Coordenador do programa de Pós-Graduação em Ciência dos Materiais da UFRGS. Era Professor Titular na UFRGS, pesquisador IA do CNPq e Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências.

Como reconhecimento de suas contribuições para a Catálise, a SBCat criou um prêmio com o seu nome, um prêmio de reconhecimento da excelência na pesquisa no desenvolvimento de novos catalisadores e processos catalíticos, além da excelência na formação de recursos humanos na área. O texto a seguir foi extraído da descrição do Prêmio:

“Roberto foi um entusiasta da catálise no país, tendo participado ativamente da criação da Sociedade Brasileira de Catálise e sido seu Presidente por dois mandatos consecutivos além de ter sido o responsável de diversas edições de CBCat, nas quais exercia com êxito suas capacidades em congregar os membros de nossa Sociedade. Porém, acima de tudo, Roberto foi um dos principais cientistas em catálise no Brasil ao seu tempo, tendo sido pioneiro no uso de líquidos iônicos, assim como contribuído para a formação de um núcleo de catálise no sul do país, sobretudo com foco na catálise homogênea voltada para processos de oligomerização e polimerização e tendo orientado suas últimas linhas de pesquisa na geração de energias alternativas e na área da química verde.

Roberto se destacou pela liderança e inovação na pesquisa, sabendo encontrar interfaces eficientes com parceiros industriais, tendo publicado inúmeros artigos em revistas de alto impacto, orientado diversos alunos de pós-graduação, muitos dos quais seguem seu legado científico na área, além de ter atuação destacada na área administrativa, como Diretor do Instituto de Química da UFRGS, coordenador de numerosas comissões da UFRGS e presidente da SBCat, entre outras atividades.”

Roberto deixou precocemente sua família e seu grupo (LRC), em 29 de novembro 2013. No que se refere ao LRC posso relatar aqui que no dia seguinte a sua despedida, apesar de estarmos todos arrasados, fui para o IQ e encontrei os alunos do grupo, juntos, no Laboratório. Eles me disseram que estavam lá fazendo as reações que tinham combinado com o Roberto pois acreditavam que é o que ele esperaria deles. Naquele momento soube que o LRC, apesar de que nunca mais seria exatamente o mesmo, sobreviveria!

Katia Bernardo Gusmão
Aluna, Colega e Amiga do Roberto Fernando de Souza

17 08 SBCAT Vitor NotíciaEm 23 de junho de 2020, a SBCat lançou o “Quem Somos?” A ideia principal surgiu como forma de divulgar na sua página da internet um pouco da história de cada um de nossos pesquisadores. Acreditamos que um pouco desta história e de como a catálise mudou a vida de nossos pesquisadores, será um incentivo para jovens pesquisadores. Entretanto, muitos dos que ajudaram a construir nossa história já não estão entre nós, mas seu legado não pode ser esquecido. Por isso, vamos divulgar, uma vez por mês, o Quem Somos? In memoriam.

Vamos começar pelo Professor Victor Teixeira da Silva, presidente da SBCat entre 2015 e 2018, quando faleceu precocemente, no auge de sua carreira.

Quem Somos?

In Memoriam

Professor Victor Teixeira da Silva

"Victor Luis dos Santos Teixeira da Silva concluiu o doutorado em Engenharia Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1994. Atualmente é professor associado do Programa de Engenharia Química do Instituto Alberto Luiz Coimbra de pós-graduação em engenharia - COPPE da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Publicou 41 artigos em periódicos especializados e 51 trabalhos em anais de eventos. Possui 3 livros publicados. Possui 2 produtos tecnológicos e outro 1 item de produção técnica. Participou de 12 eventos no exterior e 9 no brasil. Orientou 31 dissertações de mestrado e 16 teses de doutorado nas áreas de química e engenharia química. Atualmente coordena 10 projetos de pesquisa. Atua na area de engenharia química, com ênfase em petróleo e petroquímica. Em suas atividades profissionais interagiu com 66 colaboradores em coautorias de trabalhos científicos. Em seu currículo lattes os termos mais frequentes na contextualização da produção cientifica, tecnológica e artístico-cultural sao: hidrodessulfurizacao, catalisadores de hdt, hdt, temperature-programmed carburization, carbeto de molibdenio, hidrotratamento, alumina recoberta por coque, hidrotreating, hydrotreating e drx."

O texto em negrito, tirado do currículo lattes, pode ser acessado AQUI e comprova toda a trajetória de sucesso desse profissional exemplar. Como presidente da SBCat entre 2015 e 2018, foi dinâmico, incansável, iniciou a reformulação da página, criou o prêmio Arrhenius para incentivar os alunos a participarem dos CBCats e, hoje Prêmio Victor Teixeira da Silva. Sempre preocupado em prestigiar os construtores dessa nossa comunidade criou um quadro para homenagear os sócios por ocasião dos 20 anos da SBCat. Victor, foi, sem dúvida, o elo que juntou a atual diretoria, da qual faço parte com muito orgulho.

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Descrever o profissional exemplar é fácil pois sua obra pode ser encontrada na plataforma lattes, nas bases de busca científica, nos depoimentos de profissionais de diferentes áreas e comunidades, nacionais e internacionais, mas falar do amigo, ainda é muito difícil porque as lembranças são muitas, alegres, engraçadas, tensas, pois sempre queria tudo para ontem, mas a saudade do irmão de coração ainda me faz chorar.

Como ele repetiu várias vezes, seu maior orgulho era ser professor e, nada mais justo, do que deixarmos registrado o texto escrito em sua homenagem por dois de seus alunos.

Eu não estou longe,

apenas estou

do outro lado do Caminho…

Você que aí ficou, siga em frente,

a vida continua, linda e bela

como sempre foi.”

(Santo Agostinho)

Maria Auxiliadora Scaramelo Baldanza (Dora)

Victor Luis dos Santos Teixeira da Silva (Texto de Melyssa Soares de Souza e Thiago Miceli, em nome de todos os alunos)

Nascido em 19 de junho de 1964, na Angola, aos 12 anos desembarcou no Brasil, trazendo muitos sonhos na mala. Em Petrópolis, na cidade imperial, cresceu, constituiu família, e viveu até o fim dos seus dias. Quando criança, queria ser arqueólogo. No vestibular, em 1981, optou por engenharia química, sem saber explicar muito bem o porquê. Passou para o primeiro semestre na UFRJ, na Ilha do Fundão, e desde então subia e descia a serra diariamente de ônibus. No sexto período conheceu aqueles que mudariam sua trajetória profissional para sempre: o professor Peçanha, que o direcionou para a pesquisa, e o professor Schmal, que o apresentou à catálise. Durante a graduação, recebeu ofertas de estágio e emprego, mas as recusou, priorizou a iniciação científica e queria fazer o mestrado. Em 1989 iniciou sua carreira como pesquisador, ao ingressar no mestrado no programa de engenharia química da COPPE, durante o qual conheceu o Oyama, forte influenciador de sua carreira e o responsável por apresenta-lo aos carbetos. Seguiu no doutorado na mesma instituição, realizando parte do trabalho nos Estados Unidos, e obtendo o título em 1994. Em 1997 alcançou o que dissera ser seu maior sonho: ser professor universitário, dar aula, fazer pesquisa e orientar. Nessa carreira, tornou-se espelho de muitos alunos e criou grandes profissionais, compartilhando não só os ensinamentos formais, mas deixando lições para a vida. Apaixonado pela profissão, dissera que seus alunos eram motivo de grande orgulho, e que aprendia mais com eles do que ensinava. Foi professor no IME de 1997 a 2006, e a partir de 2006 passou a lecionar na COPPE e ser coordenador administrativo do NUCAT. Em 2017 assumiu a coordenação do Programa de Engenharia Química. Deixou esposa, irmã, dois filhos biológicos e muitos filhos acadêmicos. Foram 57 orientações concluídas e 20 em andamento. O respeito e carinho de profissionais de todo o mundo comprovam sua trajetória de sucesso e sua enorme contribuição dada ao meio acadêmico. Inúmeras mensagens de condolências foram recebidas pelo motivo do seu falecimento. Dentre suas atribuições citadas pelos colegas, a gentileza e bom-humor foram as mais comuns. Ele sempre tinha algo engraçado para dizer, sobre qualquer assunto. Falava com todos, estava sempre disposto a ouvir e ajudar. Sua mente estava sempre trabalhando, buscando novas ideias para trabalhos e projetos para o laboratório. Era um professor muito dedicado aos seus alunos e apaixonado pelo que fazia, sempre se esforçando para que as aulas fossem mais leves e agradáveis e fazendo o possível para garantir que todos entendessem o que estava sendo passado. Estava sempre disponível para tirar dúvidas ou para bater papo. Muito organizado e metódico, dava o melhor de si para que as coisas dessem certo. Como herança aos que ficaram, deixou seu exemplo de esforço e dedicação ao trabalho, e seu cuidado e empatia com os demais.

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14 09 SBCAT Noticia RuthRuth formou-se em Engenharia Química pela Escola Nacional de Química em 1958. Obteve seu título de Mestrado em 1977 no Instituto de Química da UFRJ, sob a orientação do Dr. Leonardo Nogueira, e o Doutorado em 2004 no NUCAT/COPPE/UFRJ sob orientação do Prof. Martin Schmal.

Ingressou no CENPES/PETROBRAS em 1972 onde atuou até sua aposentadoria 1991. Após sua aposentadoria foi uma colaboradora atuante nas pesquisas desenvolvidas pelo Núcleo de Catálise do Programa de Engenharia Química da COPPE/UFRJ com um número expressivo de publicações.

Ruth especializou-se em Espectroscopia Vibracional, tendo-se tornado referência nacional nestas técnicas espectroscópicas, principalmente aplicadas à caracterização de catalisadores. Mesmo tendo trabalhado, em grande parte de sua vida profissional, num centro de P&D cativo de empresa, sempre foi muito atuante e colaborativa na comunidade de catálise, o que levou a SBCAT a conceder-lhe em 2003 o título de Membro Honorário da Sociedade.

Ruth faleceu em janeiro de 2017, tendo deixado muitas e boas lembranças em todos aqueles que tiveram o privilégio de disfrutar de sua convivência, social ou profissionalmente, graças a sua afabilidade no trato pessoal e competência e seriedade profissionais.

Como reconhecimento de sua importância na comunidade catalítica do Rio de Janeiro e do país, a Regional 2 da SBCAT instituiuem 2018 o Prêmio e Medalha Ruth Leibsohn Martins, conferido a um profissional ou estudante, da região de abrangência da Regional 2, não só pelas suas contribuições para o avanço da catálise, mas também por suas atividades altruístas, em termos de boa interação e ajuda a colegas, subordinados e o público em geral. O Prêmio foi conferido pela primeira vez à Dra. Lúcia GorenstinAppel do INT, durante o 3º Encontro de Catálise da SBCAT Regional 2.

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