Herramientas de Accesibilidad

11 01 SBCAT NotíciaFinal de 1986, trabalho há mais de 3 anos na Petrobras em regime de embarque como técnico químico, nome de guerra Morgado. Recém graduado pelo Instituto de Química da UFRJ, sonho trabalhar como pesquisador na Cia. Desembarco em Macaé num domingo e no escritório me deparo com edital de concurso para pesquisador no CENPES. A inscrição é até o dia seguinte e o exame no domingo próximo; no ato da inscrição é preciso eleger uma de 4 áreas: refino, petroquímica, lubrificantes ou catálise. Não tinha preferência, trabalhava na produção de petróleo e com nenhuma delas tinha familiaridade, mas aquela última me desperta a curiosidade.

Como a catálise se tornara uma disciplina destacada para a Petrobras? Decido visitar o CENPES e encontro Claudio Mota, hoje professor da UFRJ reconhecido membro desta comunidade, que me conta um pouco mais da Catálise e sua importância para a empresa e ainda me recomenda um livro básico: “Principles of Catalysis” de G.C. Bond. Saio dali convencido da minha opção e faço a inscrição. Estudo o livreto em cinco dias e sou aprovado na prova escrita. Leio ainda alguns manuais editados pelo IBP que me posicionam sobre a situação da Catálise no Brasil e me ajudam na entrevista que se segue e da qual saio selecionado pela banca em que estavam os doutores Leonardo Nogueira e Arnaldo Faro, que dispensam apresentação.

Em Jan/1987 sou admitido na Divisão de Catalisadores do CENPES (DICAT) como Químico de Petróleo. Sou recebido no grupo de aluminas por meus mentores Cecília Figueiredo e Gustavo Moure, hoje amigos queridos a quem devo amplo apoio e orientação no início da carreira de pesqisador. Neste grupo participo do desenvolvimento de aluminas para vários fins catalíticos na indústria de refino e petroquímica. Me especializo em aluminas para catalisador de FCC, com patentes na área, responsável pela implantação industrial de várias delas para aplicação do respectivo catalisador em refinarias da Petrobras. Em 1989, participo da partida da Fábrica Carioca de Catalisadores (FCC SA) ao lado dos colegas do CENPES como Oscar Chamberlain, Marlon Almeida e do destacado Dr. Eduardo Falabella, experiência extraordinária a partir da qual pude ampliar meu conhecimento das tecnologias de preparo de catalisadores de FCC desde a escala de bancada até a industrial, estreitando laços com pesquisadores de nossa parceria com a AKZO NOBEL na Holanda e EUA.

Orientado pelo honorável Dr. Yiu Lau Lam e incentivado pelo saudoso Professor Octavio Antunes do IQ/UFRJ, inicio meu mestrado em 1992 e defendo em 1995 a primeira tese de pós-graduação do recém-criado programa de Química Inorgânica, de cuja banca participa o professor Dilson Cardoso, mais uma referência na minha rede em Catálise. O mestrado gera dois artigos sobre a síntese e caracterização de precursores coloidais de aluminas, com ênfase na elucidação das espécies por RMN 27Al, conhecimento aplicado no desenvolvimento de aluminas ligantes dentro da parceria Petrobras-Akzo, mais tarde rendendo capítulo de livro “NMR studies of Colloidal Oxides”, em co-autoria com Sonia Menezes e Carlos Pacheco. Logo após o mestrado, motivado pela necessidade da Petrobras processar cargas mais pesadas em suas refinarias, inicio um projeto visando ao incremento da porosidade de nossos catalisadores de FCC; em apenas 2 anos nasce uma nova tecnologia “PRA”, patenteada e implantada industrialmente na FCC S.A. Em 1998, o novo catalisador é testado com sucesso em refinaria e seu uso se estende para várias outras unidades de FCC no Brasil e América do Sul por mais de 10 anos, tendo sido produzidas mais de 90.000 toneladas e nesse período proporcionado considerável ganho de rentabilidade para a Petrobras. A inovação recebe menção honrosa no XXVI Prêmio Governador do Estado de São Paulo em 2000 e o prêmio de Inovação Tecnológica na categoria Produto, concedido pela FINEP em 2003.

No 12º Congresso Brasileiro de Catálise, sou convidado pelo Professor Antonio Araújo para um Doutorado no Departamento de Química da UFRN e sob sua orientação inicio em 2004 minha segunda pós-graduação, no mesmo ano que sou promovido a Consultor Sênior na Petrobras. Em 2007, torno-me doutor em Química após defesa de tese sobre titanatos nanoestruturados, o que robustece meu conhecimento em nanotecnologia e fotocatálise e rende a publicação de 4 artigos internacionais em apenas dois anos, que hoje acumulam mais de 500 citações (base Scopus). Foram ainda depositadas duas patentes pela Petrobras e publicados vários outros artigos derivados em parceria com o grupo do Professor Bojan Marincovic na PUC-Rio, com quem co-oriento vários alunos de PG. A partir dessa época se intensifica minha relação com a comunidade, particularmente com grupos da Rede de Catálise na região Sudeste e no Norte e Nordeste (RECAT), participando de várias bancas examinadoras e auxiliando o Dr. Lam a gerenciar o recurso da participação obrigatória ANP com foco na implantação de técnicas avançadas de caracterização de catalisadores, quando atuo como interlocutor técnico em diversos termos de cooperação. Aumenta exponencialmente minha demanda para revisão de manuscritos em periódicos internacionais na área de Ciência de Materiais.

Em 2011 sou convidado pelo Dr. Marco Fraga do INT a compor a Diretoria da Regional 2 da SBCat como representante da indústria, atuando no biênio 2011-2013. Concomitante às atividades na Petrobras, entre 2014 e 2019 tenho a honra de co-orientar duas teses de mestrado sobre contaminação de catalisador de FCC por metais com a professora Cristiane Henriques na UERJ, envolvendo alunos da indústria (FCC S.A), e sobre o mesmo assunto em 2018-2019 tenho publicado dois artigos no Applied Catalysis em co-autoria com o Dr. Klaus Krambrock da UFMG. No final de 2018, começo na Petrobras nova fase profissional deixando o grupo de FCC. Passo a dividir a coordenação de uma carteira de projetos transversais que inclui quase 20 termos de cooperação na área de Catálise e o desafio de me transferir para a área de Energia Renovável do CENPES para coordenar um projeto de células fotovoltaicas de 3ª geração, liderando uma parceria com o CSEM Brasil em BH para o desenvolvimento de células solares a base de perovskita híbrida. Às vésperas de me aposentar da Petrobras, essa é uma ótima oportunidade de contar minha história. Pretendo manter futuras colaborações com membros desta sociedade, por quem nutro grande estima, visando ainda contribuir para o desenvolvimento da Catálise no País.

21 12 SBCAT 2020 quemsomos NotíciaA opção pela Engenharia Química se deu, sobretudo, pela forte sedução exercida sobre o jovem niteroiense que cursava o secundário no Instituto Abel (“rival” do Salesianos, do Leonardo) pela propaganda da Petrobrás no rádio (a televisão engatinhava no Brasil) no início dos anos 60: “Petrobrás: capital, trabalho e técnica nacionais a serviço do Brasil .... e dos  brasileiros”. Trabalhar na Petrobrás era o meu projeto de vida profissional. E o primeiro passo foi dado quando iniciei minha graduação na Escola de Química em 1967. Tempos difíceis no Brasil nesta e na década seguinte, sobretudo para os setores ligados à cultura. Paradoxalmente, o isolamento internacional do Brasil e as políticas de substituição de importações, desenvolvimento de tecnologia nacional e outras abraçadas pelos governantes de então, mostraram-se muito estimulantes para os setores da ciência que pudessem contribuir para esse projeto. Quando a Coppe deixou as modestas instalações da Praia Vermelha e se mudou para a Ilha do Fundão, em 1967, o Programa de Engenharia Química (PEQ) deu uma guinada nas suas linhas de pesquisa, consideradas teóricas até então, e passou a investir em trabalhos de natureza experimental. E essa perspectiva me atraiu e me fez aceitar o convite dos saudosos Giulio Massarani e Carlos Augusto Perlingeiro para lá desenvolver um trabalho de iniciação científica com carvão sob orientação de Arlindo de Almeida Rocha que, logo depois, ao partir para o doutorado em Stanford, me deixou de “herança” para Maury Saddy,  recentemente retornado de seu doutorado em Londres (Imperial College). Arlindo, Carlos Russo e Saddy foram pioneiros na ocupação do sub-solo do bloco I do Centro de Tecnologia, onde construíram, no final da década de 60, os primeiros e precários laboratórios próprios do PEQ, que até então ocupava áreas cedidas por outros. Nascia ali o Grupo de Reatores e Cinética Aplicada (RCA), mais tarde Grupo de Cinética e Catálise, embrião do que seria, duas décadas depois, o Núcleo de Catálise (Nucat). Foi essa troca de orientador de IC que me permitiu ter o primeiro contato com a catálise, quando Saddy me pediu para auxiliar seu orientado Saul D’Ávila nos experimentos finais de sua tese de doutorado, intitulada “Oxidação Catalítica de Crotonaldeído a Anidrido Maleico”, assunto de interesse da Rhodia. A tese de Saul, defendida em 1971, foi a segunda tese de doutorado da Coppe, a terceira em engenharia no Brasil (a primeira foi no ITA) e a primeira de doutorado da engenharia química e, salvo alguma falha documental, da catálise heterogênea brasileiras. E eu recebi meu batismo de fogo na catálise.

NOVOS CAMINHOS

Mas, apesar de seu pioneirismo no meio acadêmico do Rio de Janeiro, onde trabalhos iniciais em catálise começavam também a ser desenvolvidos nas modestas instalações do Cenpes ainda na Praia Vermelha, a tese de Saul se mostrou um esforço pontual e sem continuidade, já que nem ele nem Saddy, como de certa forma já ocorrera com Ciola em São Paulo, não fizeram da catálise o foco de suas carreiras.  O trabalho em catálise nas universidades brasileiras e no PEQ, em particular, só deslanchou realmente quando, no início da década de 70, tendo retornado de seu doutorado na Alemanha, Schmal , que, como quase todos os outros pioneiros (Leonardo Nogueira parece ser a única exceção) não tinha formação em catálise, decidiu dedicar sua vida profissional a essa ciência. E eu, nesse momento, também havia me afastado da catálise, envolto com meu mestrado e meu doutorado, ambos sob orientação de Saddy e ligados ao estudo da cinética das reações gás-sólido. E aí quase que a Petrobrás entrou na minha vida. Tendo iniciado meu doutorado em 1974, fui, neste ano, convidado a participar do processo seletivo para ingresso no Cenpes, que buscava se expandir nas suas novas instalações na Ilha do Fundão/Cidade Universitária, para onde havia se mudado no ano anterior (a seleção para o Cenpes, naquele momento, foi um processo direto, independente dos concursos da Petrobrás).  Nessa época, sob a liderança de Leonardo Nogueira, a catálise ia aos poucos se firmando no Cenpes, o que culminou com a criação da Divisão de Catálise (Dicat) em 78. Quando eu já estava com um pé na Petrobrás, a ponto de realizar meu sonho da adolescência, fui convidado pelo PEQ para integrar seu corpo docente e decidi abraçar a carreira acadêmica. Mas a catálise viria a me reaproximar em futuro próximo da Petrobrás e do Cenpes.  A minha tese de doutorado se arrastou por seis longos anos, como ocorreu com todos os outros jovens docentes do PEQ naquela época, envolvidos que fomos nas atividades acadêmicas, administrativas e de consolidação dos laboratórios, em um momento particularmente difícil da vida da Coppe, após o afastamento de seu fundador, Coimbra, em 1973. Defendido o doutorado em 1980, fui como visitante para a University of Cambridge (UK), de onde voltei no ano seguinte.

A CONSOLIDAÇÃO

 Ao contrário do refino, na prática um monopólio da Petrobrás, a petroquímica envolvia um grande número de empresas que se instalaram nos chamados polos petroquímicos, a partir do modelo tripartite: uma empresa estatal (Petroquisa), uma empresa privada nacional e um sócio estrangeiro que aportava capital e  tecnologia própria. Mas logo ficou claro para essas empresas que, uma vez dominada a tecnologia, do ponto de vista operacional, que a total dependência do sócio estrangeiro quanto a futuros desenvolvimentos era uma limitação séria. E elas se aproximaram das universidades em busca de apoio para o entendimento e domínio dos processos catalíticos que praticavam. E então o trabalho desenvolvido por Schmal, sobretudo junto às indústrias de Camaçari, começou a render frutos. E eu passei gradativamente a me envolver cada vez mais com a catálise, que se firmava no cenário acadêmico e industrial brasileiro a partir de iniciativas (já citadas por outros) como o PRONAC, a Comissão de Catálise do IBP, o Seminário Brasileiro de Catálise, etc. E me apaixonei pelas zeólitas, e sua estrutura porosa desafiadora, quando em 1984 coordenei o projeto “Desproporcionamento de Tolueno” para a Copene (onde Marco Ebert e Fernando Lira, já citados pelo Luiz Pontes, se destacavam pelo seu entusiasmo). O projeto para a Copene foi o ponto de partida para as teses de mestrado de José Geraldo Pacheco Filho (em coorientação com o Schmal) e de Carlos Albert Krahl. A tese do José Geraldo, defendida em 1986, foi, aparentemente, a primeira tese com zeólitas desenvolvida no Brasil e que gerou o primeiro artigo brasileiro sobre zeólitas a ser publicado em revista de circulação internacional (Catalysis Today), em 1989. Da mesma forma, a tese de doutorado de Stella Regina Reis da Costa, defendida em 1991 (novamente com orientação partilhada com Schmal), parece ter sido a primeira com zeólitas no Brasil. A orientação da tese da Stella me levou em 1988 a um período de três meses como visitante no Institut  de Recherche sur la Catalyse (Lyon), onde ela desenvolvia  parte da caracterização das zeólitas usadas na sua tese, e na Université de Poitiers (Poitiers), ambos na França. Nessas instituições tive a oportunidade de conhecer de perto algumas técnicas ainda indisponíveis no Brasil e conviver com pesquisadores experientes como Jacques Védrine, Claude Nacache e Michel Guisnet, dentre outros. Ao longo da década de 90 o meu trabalho com zeólitas se consolidou, sobretudo a partir da criação do Nucat e da interação com o Cenpes e sua equipe altamente qualificada, cujo apoio com as técnicas analíticas foi decisiva. E deu origem a uma colaboração extremamente gratificante e a uma sólida amizade com Eduardo Falabella Sousa-Aguiar. Mas minha carreira científica não teria me trazido tantas alegrias se não fosse a parceria com Cristiane Assumpção Henriques. Ao mesmo tempo, novas linhas foram exploradas, como a catálise básica, os materiais mesoporosos, a Química Fina e outros, sem abandonar os estudos cinéticos.

CONCLUSÃO

Trabalhos em colaboração foram sempre uma constante ao longo da minha carreira. Enquanto nas empresas a norma é o trabalho em equipe, presente até nos processos seletivos, o ambiente acadêmico muitas vezes estimula o individualismo e a busca por protagonismo. É com satisfação que sempre que examino minha produção científica observo que as parcerias estão presentes na grande maioria das publicações. Por isso optei por citar nomes ao fazer esse relato, mesmo ciente do risco de omissões e imprecisões, que poderão ser corrigidas por outros depoimentos. A partir do início da década de 2000 me afastei progressivamente do ambiente acadêmico e me envolvi com a atividade administrativa da UFRJ (até me aposentar em 2007), quando tive o privilégio de ocupar o cargo de Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa por 5 anos(o que me levou à presidência do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Pós-Graduação e Pesquisa) e de Reitor em exercício por dois períodos de três meses (num desses períodos fui anfitrião do então presidente Lula quando de sua visita à UFRJ). Hoje, cerca de 15 anos após ter deixado minhas atividades científicas e buscado novos caminhos,  é com inegável satisfação que quase toda semana recebo uma notificação de meus trabalhos sendo citados por outros autores na literatura internacional. Finalmente, mas não menos importante, a carreira acadêmica me permitiu participar da formação de um contingente de profissionais brilhantes (foram 41 teses de mestrado e 14 de doutorado orientadas) que se transformaram em amigos sinceros.

Valeu a pena.

 Notícia 1Em 1993 iniciei a graduação em Engenharia Química na Escola de Química (EQ) da UFRJ. No início de 1995 estava procurando uma vaga de iniciação científica quando vi no mural da EQ um cartaz do Prof. Martin Schmal, oferecendo uma bolsa de IC no Núcleo de Catálise (NUCAT) da COPPE/UFRJ. Naquela época ainda não havia cursado Cinética e não conhecia muito a área de Catálise. Fui procurar o Prof. Schmal e consegui a bolsa. Fiz três anos de IC no NUCAT, onde começou a minha paixão pela Catálise. Nesses primeiros anos participei de vários projetos que estavam sendo desenvolvidos lá, trabalhando com síntese de catalisadores de paládio suportados e caracterização por técnicas de termodessorção, sob orientação do Prof. Schmal e também do Prof. Donato Aranda.

No final de 1997, quando me formei na EQ, o Prof. Schmal me convidou para fazer mestrado no Programa de Engenharia Química (PEQ) da COPPE/UFRJ. Após os três anos no NUCAT eu já não tinha mais dúvidas quanto ao meu interesse pela área, e então iniciei o mestrado em 1998. Após cursar 4 disciplinas do mestrado e obter nota máxima em todas, fui convidada para o doutorado direto. Meu doutorado foi na área de produção de gás de síntese por reforma seca do metano, utilizando catalisadores de platina suportados em zircônia. O contato com diferentes técnicas de caracterização e as dificuldades inerentes ao trabalho experimental me proporcionaram um amadurecimento muito grande como pesquisadora. O incentivo e o apoio dos meus orientadores foram fundamentais nessa trajetória. Durante o doutorado tive também minha primeira experiência como docente, atuando como professora substituta na UERJ. Com isso, ao final do doutorado, em 2001, já não tinha mais nenhuma dúvida que queria seguir a carreira acadêmica.

Fiz o concurso para Professor Adjunto do Departamento de Processos Inorgânicos da EQ e tomei posse em novembro de 2003. Desde o início no Departamento eu já pensava em montar um laboratório voltado para a pesquisa em Catálise e Materiais, particularmente na área de produção de hidrogênio, que tanto me fascinava desde o doutorado. A oportunidade veio com a minha participação na Rede de Produção de Hidrogênio do Programa Brasileiro de Sistemas Células a Combustível (ProCaC, que depois foi renomeado para ProH2), que proporcionou os primeiros recursos para montar o Laboratório de Tecnologia do Hidrogênio (LabTecH). O laboratório foi inaugurado em 2006 e, desde então, diversos projetos com agências de fomento e também com a Petrobras permitiram a sua expansão e consolidação na área de produção de hidrogênio a partir de diferentes fontes, desde o gás natural até derivados de biomassa, como glicerol e bio-óleo. As linhas de pesquisa se expandiram e o grupo passou a trabalhar também com outras reações, voltadas para a área de química verde. Em 2009 recebi o Prêmio de Pesquisador em Catálise da SBCat, uma grande honra e reconhecimento do trabalho em Catálise desde o doutorado.

Já orientei mais de 50 alunos de mestrado e doutorado, e muitos desses também se tornaram pesquisadores e docentes, e nada me deixa mais feliz do que ver o crescimento e sucesso dos meus alunos. Cheguei na marca de 100 artigos publicados em periódicos, com mais de 2300 citações. Cerca de 80% dessas publicações são em Catálise, e o restante nas áreas de materiais para células a combustível e adsorventes. Esse ano me tornei Professora Titular da Escola de Química, o que é um grande orgulho para mim, um reconhecimento de todo o trabalho de ensino e pesquisa que venho realizando nesses 17 anos na UFRJ e onde ainda desejo realizar muitos outros sonhos.  Poder continuar contribuindo para o crescimento da Catálise no Brasil é um deles.

14 12 SBCAT PauloGustavo NotíciaOs meus primeiros contatos com a pesquisa ocorreram quando trabalhei entre 1977 e 1979, como Analista do Centro de Pesquisas da Petrobrás - CENPES. Esse período, foi fundamental para o meu engajamento na carreira científica.

Ao ingressar no Instituto Nacional de Tecnologia - INT, em 1985, com mestrado obtido em 1984 no Instituto Militar de Engenharia - IME, fui designado para a Unidade de Programas em Alcoolquímica, que à época estava iniciando estudos sobre catalisadores voltados à oxidação do etanol. Nos anos seguintes, a Direção do INT incentivou a realização de cursos de pós-graduação. Desta forma, em 1987, retomei os meus estudos no IME, na modalidade de “doutorado sanduiche” em catálise, em parceria no exterior com o Institut de Recherches sur la Catalyse - IRC – França, entre outubro de 1988 e outubro de 1989. A defesa de tese ocorreu em 1990, no IME, tendo como orientador no Brasil o Professor Jean-Guillaume Eon e na França o Dr. Jean-Claude Volta. Não posso deixar de registrar aqui, o apoio recebido do Professor Roger Fréty, durante a minha permanência naquele país.

De retorno ao INT, em 1990, a Unidade de Programas em Alcoolquímica passa a se chamar Divisão de Catálise para a qual eu fui convidado para chefiá-la, permanecendo neste cargo entre 1991 e 2004. Em 1991, o INT assina um contrato de cooperação internacional com o IRC.
Como estágios de aperfeiçoamento e missões que realizai após o meu doutorado, destaco em 1992, 1994 e em 2006 no IRC dando continuidade aos estudos de dopagem de estruturas VPO por nióbio e aos estudos de catalisadores heterogêneos aplicados à transesterificação de óleos vegetais, em parceria com a Dra. Nadine Essayem. Em 2000, na Universidade de Caen, sob a supervisão do professor Marco Daturi e na Universidade de Lille sob a supervisão do professor Edmond Payen, ambos sobre a aplicação de técnicas espectroscópicas à catálise. Missões de pesquisadores do IRC ao INT foram igualmente realizadas neste período como a do Dr. Jean Claude Volta na área de catalisadores de oxidação e a do Dr. Stefano Caldarelli, na área de espectroscopia. Em 2001, integrei missão ao Exterior conjunta com o Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT, para participar a IV Semana Internacional de Indústrias de Alta Tecnologia em Beijing na China e em 2007 integrei missão à Intendência de Paysandu no Uruguai, visando firmar acordo de cooperação em bioenergia.

Participei igualmente de atividades acadêmicas, a convite da Professora Wilma de Araújo Gonzalez, como professor - colaborador no IME, ministrando a disciplina de Catálise de Oxidação e orientando dissertações de mestrado e teses de doutorado, em projetos cooperativos com o INT, tendo sido em 2005 agraciado com o título de Amigo do IME.

Entre 2007 e 2017, fui convidado a atuar como Coordenador de Desenvolvimento Tecnológico do INT, integrando a Direção da Instituição e tendo sob a minha supervisão as áreas e Catálise, Química, Materiais e Design. Neste período foram consolidadas as atividades em Nanotecnologia no INT, com a inauguração do Centro que Caracterização em Nanotecnologia em Materiais e Catálise (CENANO) em 2010, alcançando o patamar de Laboratório Estratégico do SisNANO (Sistema Nacional de Nanotecnologia) do MCTI.

Atualmente, como pesquisador da Divisão de Catálise e Processos Químicos do INT, desenvolvo estudos voltados à desidrogenação oxidativa (ODH) do propano.

Todas essas missões, oportunidades e realizações, foram decorrentes direta ou indiretamente da minha formação em catálise. Posso a firmar que valeu a pena. Às novas gerações ficam aqui essas palavras de incentivo: ¨ Dificuldades sempre existirão, mas tenho certeza que unidos sob as lideranças atuais de nossa comunidade científica, saberemos transpô-las, como assim souberam os pioneiros da construção da catálise no Brasil ¨

27 11 SBCAT AntoniAraujo NotíciaA Catálise no Brasil praticamente iniciou nos anos 80, com a criação do Programa Nacional de Catálise (PRONAC), associando grupos e laboratórios para o desenvolvimento de pesquisas, visando a formação de núcleos para apoiar as indústrias nacionais. Esse plano foi elaborado em 1983 com alguns grupos em Universidades no país, recebendo apoio financeiro do CNPq e FINEP. Foi exatamente neste ano que iniciei o curso de Química Bacharelado, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Posso dizer que eu estava no lugar certo, no momento certo.

Minha trajetória na área de catálise iniciou em março/1983, quando fui convidado a participar da equipe do Laboratório de Catálise Heterogênea da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como aluno de Iniciação Científica voluntário, para desenvolvimento de um projeto inserido dentro do PRONAC, sob a coordenação do Prof. Shantappa Jewur. O projeto estava relacionado ao desenvolvimento de óxidos metálicos simples e mistos, além de argilominerais e zeólitas naturais e sintéticas. Ainda em 1983, participei do 2o Seminário Brasileiro de Catálise (São Paulo) e fiquei bastante impressionado com a área de catálise, e tive pela primeira vez contato com renomados pesquisadores nacionais e internacionais. Nesse momento, conheci alguns pesquisadores que iniciaram a catálise no Brasil, como Martin Schmal, Yiu Lau Lam, Ruth Leibson Martins, Ulf Schuchardt e Remolo Ciola. Em 1984, já tinha vários resultados sobre a síntese de zeólitas X e Y, e A, além de modificação de zeólitas naturais stilbita e chabazita. Foi então em 1985, que participei no 3o Seminário Brasileiro de Catálise (Salvador), agora com apresentação do meu primeiro trabalho de IC intitulado: “Síntese, Caracterização e Testes Catalíticos das Zeólitas A, X e Y” (Anais do IBP, 1985, pp. 297-311). Como este evento ocorreu em Salvador, aproveitei para conhecer algumas indústrias do Polo Petroquímico de Camaçari, bem como do Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (COFIC).

No período de 1986-88, realizei o mestrado em Química, na Universidade Federal da Paraíba, com Bolsa da COPENE (atual BRASKEM), para desenvolvimento de projeto sobre alquilação de tolueno com metanol e isomerização de m-xileno para obtenção de p-xileno, utilizando zeólita NbZSM-5. Ao final do mestrado fui contratado como químico pesquisador no Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (CEPED), em Camaçari (BA), onde permaneci por dois anos. Durante este período, fiz diversos contatos com pesquisadores, destacando os Professores Luiz Pontes (UFBA), Heloysa Andrade (UFBA), Reger Frety (CNRS), Eduardo Falabella (UFRJ) e Yiu Lau Lam (Cenpes). Como funcionário do CEPED, participei de vários projetos de pesquisa do PROQUIM – Programa Petroquímico, financiado pelo COFIC, principalmente projetos da COPENE, sobre caracterização de zeólitas sintéticas; da ACRINOR – Acrilonitrila do Nordeste, sobre catalisadores metálicos baseados em óxidos de molibdênio, bismuto e ferro, para o processo de amoxidação de propeno; CIQUINE – Companhia Química do Nordeste, sobre caracterização de catalisadores de oxidação baseados em óxidos de zinco e titânio, e DETEN – Detergentes do Nordeste, sobre catalisadores ácidos e superácidos, para a obtenção da matéria prima para preparação de detergentes, conhecida como LAB (linear-alquil-benzeno). Este processo usava ácidos líquidos, principalmente o fluorídrico, que é muito volátil e corrosivo, sendo um ácido de difícil manuseio. Como eu tinha conhecimento em catalisadores ácidos heterogêneos, sugeri aos pesquisadores da empresa DETEN que fosse verificada a possibilidade da aplicação de zeólitas ácidas e superácidas para este processo. Uma pesquisa na literatura mostrou que a superacidez de zeólitas poderia ser conseguida pela incorporação de terras raras nas cavidades do material. Assim, resolvi realizar o doutorado com esta temática.

No início dos anos 90, fui aprovado em concurso público para Professor na UFRN, e também já estava iniciando o meu doutorado em Química Inorgânica no Instituto de Química da USP, sob orientação da Profa. Lea Zinner. Defendi minha tese de doutorado ao final de 1992 sobre a “Influência de terras raras nas propriedades e atividade catalítica da zeólita Y”, com participação dos professores Martin Schmal, Dilson Cardoso, Remolo Ciola e Eduardo Falabella, na minha banca examinadora. Os catalisadores obtidos foram caracterizados por vários métodos físico-químicos, e finalmente testados como catalisadores ácidos no processo de alquilação de benzeno com 1-dodeceno, para formação de LAB (Linear-Alquil-Benzeno). Os materiais apresentaram boa atividade catalítica, com seletividade ao LAB 2-fenil-dodecano, que é o produto mais desejado no processo. Este processo foi patenteado e atualmente, o LAB em Camaçari é produzido por processo heterogêneo utilizando zeólitas ácidas. Ao retornar à UFRN, em 1992, iniciei pesquisas sobre síntese, caracterização e propriedades catalíticas de zeólitas, aluminofosfatos (ALPO’s), silicoaluminofosfatos (SAPO’s) e derivados, quando aprovei meus primeiros projetos com o CNPq, além de iniciar cooperação com a Fábrica Carioca de Catalisadores (FCC) e Cenpes/Petrobras. Mantive colaboração efetiva com o pesquisador Yiu Lau Lam (Cenpes) e com o Prof. Dilson Cardoso (UFSCar), o qual recebeu vários alunos para caracterização e testes catalíticos de vários materiais desenvolvidos em nosso laboratório.

Durante minha carreira acadêmica, tive participação em diversos congressos na área de catálise, zeólitas, análise térmica e adsorção, seja como participante, palestrante ou em comissão organizadora/científica.  Ressalto que ao longo dos anos, tenho participado de quase todos os Congressos Brasileiros de Catálise, e em 1995, com a criação das sub-diretorias e das Regionais em Catálise, fui indicado como Sub-diretor da SBCAT, juntamente com os colegas: Alexandre Chernichenco, Pedro Arroyo, Luiz Pontes, Claudio Mota, Roberto Fernando de Souza, Vitor Teixeira e Lucia Appel. Assim, como membro e representante de universidades da SBCat, fui eleito o primeiro Supervisor da Regional-1 da SBCat, e em 1996 organizamos o 1o Encontro de Catálise do Norte-Nordeste (ENCAT) em Natal(RN), com mais de 100 participantes, o que nos deixou bastante entusiasmados com a importância da catálise na região. Atualmente os ENCAT’s ocorrem a cada dois anos, em algum estado do Norte, Nordeste ou Centro-Oeste, sendo o evento oficial da RECAT. Nestes eventos, diversos colegas catalíticos integram as comissões, como Sibele Pergher (UFRN), Dulce Melo (UFRN), Eledir Sobrinho (UFRN), Célio Cavalcante (UFC), Maria Wilma Carvalho (UFCG), Meyre Gláucia (UFCG), Celmy Barbosa (UFPE), José Geraldo (UFPE), Joana Barros (UFCG), Luiz Pontes (UFBA), Soraya Brandão (UFBA), Marcelo Souza (UFS), Anne Michelle Souza (UFS), Antonio Osimar Silva (UFAL), Maritza Urbina (UFAL), José Dias (UnB), Silvia Dias (UnB), Geraldo Narciso (UFPA), Geraldo Luz (UESPI), Anne Gabriella (UERN), Vinícius Caldeiras (UERN), dentre outros colegas. O último evento foi o 12o ENCAT, e ocorreu em Belém (PA) sob a presidência do Prof. Geraldo Narciso. Todos os eventos foram carinhosamente preparados, e tiveram como objetivo principal aumentar a interação entre os grupos de catálise na Regional e incrementar as parcerias. Destaco aqui o apoio incondicional da SBCat, CNPq, FINEP, Rede de Catálise (RECAT), indústrias da região e representantes de instrumentos científicos, que sempre garantiram o sucesso dos ENCAT’s.

Foi participando em alguns congressos internacionais, seja na área de catálise, zeólitas, nanomateriais, análise térmica ou adsorção, que conheci pesquisadores renomados, como Harry Robson, Abdel Sayari, Mietek Jaroniec, David Olson, David Serrano, Enrique Castellon, Continuei fazendo contato com esses pesquisadores e no período de 1998-1999, realizei pós-doutorado sobre materiais nanoporosos, especialmente LaMCM-41 e CeMCM-41, em Kent State University (Ohio – EUA), supervisionado pelo Prof. Jaroniec. Naquele período, participei de diversos workshops e simpósios sobre catálise aplicada ao beneficiamento de petróleo e resíduos de petróleo, em eventos apoiados pela American Chemical Society (ACS). Desde então, tenho atuado como integrante da American National Research Concil, para avaliação de projetos financiados pelo Petroleum Research Fund, administrado pela ACS.

Ao retornar dos Estados Unidos, estava sendo criado no Brasil os fundos setoriais e as agências reguladoras, e através da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), com o apoio da FINEP, aprovamos projetos na RECAT nos anos 2000, ocorrendo assim a consolidação de diversas parcerias e grupos de pesquisa em catálise na Regional-1. Tenho atuado nos cursos de graduação em química licenciatura, bacharelado, química do petróleo, e nos programas de pós-graduação em química, pós-graduação em ciência e engenharia de materiais, e pós-graduação em ciência e engenharia de petróleo. Muitos dos meus alunos defenderam suas dissertações ou teses, e ingressaram na academia ou centros de pesquisa. Alguns atuam em instituição no exterior. Em 2000, fomos convidados pela ANP para participar do programa nacional sobre o monitoramento da qualidade dos combustíveis. Então, já estamos inseridos neste programa por vinte anos, e também iniciamos pesquisa sobre catálise aplicada ao beneficiamento de petróleo pesado, resíduos atmosférico, resíduo de vácuo, gasóleo de vácuo. Neste caso desenvolvemos vários materiais meso e macroporosos para estas aplicações. Desenvolvemos também novos projetos sobre pirólise e degradação termo-catalítica de resíduos de plásticos, para obtenção de hidrocarbonetos conbustíveis na faixa de GLP, gasolina e diesel. Temos trabalhos de cooperação na área de biocombustíveis.

O início da minha trajetória catalítica praticamente coincidiu com o início dos seminários/congressos em catálise no Brasil, o que permitiu acompanhar toda a sua evolução e desenvolvimento desde 1983. Naquele tempo, a catálise se concentrava basicamente em RJ e SP. Com a criação das quatro regionais da SBCat, especificamente a Regional-1, houve uma maior divulgação e ampliação das atividades de pesquisa em catálise nas regiões N, NE e CO. Durante minha passagem pelo Polo Petroquímico de Camaçari, fui contemplado com várias frentes de pesquisa, além de amizades que cultivo até hoje. No período acadêmico, desde quando ingressei como professor na UFRN, ao longo de 30 anos (1990-2020), orientei vários alunos de graduação, mestrado e doutorado, os quais muitos deles estão inseridos no mercado de trabalho, o que me deixa bastante honrado, com o sentimento do dever cumprido. Ainda continuo atuando como pesquisador (Bolsista de Produtividade do CNPq, desde 1993), e espero contribuir por muitos anos para o progresso da catálise no Brasil.

Topo