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Essa história começa no semiárido Cearense, especificamente na cidade de Limoeiro do Norte, lugar onde nasci, vivi a infância e parte da vida adulta. Na Princesa do Vale, como Limoeiro é conhecida, também foi o lugar onde tive oportunidade de me graduar em Química (UECE). Ainda na graduação o Prof. Hélio Girão (UECE) nos apresentou ao mundo maravilhoso das zeólitas, ali foi amor à primeira vista. Assim como na canção de Chico Cesar que diz: “Quando não tinha nada, eu quis”, assim começamos, com nada, nada mais poderoso que a vontade. Vamos transformar argilas do grupo da caulinita em zeólitas A e X, assim começa meu primeiro contato com pesquisa e com a síntese de materiais. Antes de terminar a graduação eu já estava “batendo à porta” do Prof. Dilson Cardoso (DEQ-UFSCar), de “pires na mão”, pedindo difração de raios X para algumas amostras. O NÃO está garantido, vamos correr atrás do SIM. Nessa época, a iluminação me veio em perceber o que o envio de e-mail é gratuito e com ele podemos nos conectar com qualquer um que queira. Além do Prof. Dilson, que gentilmente fez as análises (que por sinal deu um lindo “morro” de material amorfo), nessa época eu já estava tentando análises com a Profa. Vera Constantino (IQ-USP-SP), recebi amostras comerciais de zeólitas (FAU e MOR) do gentilíssimo Prof. Marcelo Marciel (IQ-UFRJ) e tempo para usar o DRX do Prof. Marcos Sasaki (UFC), apenas para citar alguns nomes. Adoro e sempre uso a frase que virou lema: “Quem tem amigo não morre pagão”. No último semestre da graduação já estávamos falando sobre o projeto de mestrado e com a orientação do Prof. Dilson Cardoso garantida, decidi ir para São Carlos. O LabCat e as pessoas que ali estavam na época me receberam de braços abertos. Até a distância e as saudades de casa já não eram tão sofridas como no começo. Para o doutorado foi fácil decidir continuar no mesmo lugar, apesar da caminhada não ter sido tranquila, o resultado valeu a pena. Durante todo esse período na pós-graduação, além do Prof. Dilson, a Profa. Heloise Pastore (querida Lolly) teve um papel central na minha formação.
O pós-doutorado era destino óbvio, bem como as zeólitas como tema da pesquisa. O desafio estava em juntar as expertises do Prof. Celso Santilli (IQ-UNESP) na síntese de materiais porosos com as zeólitas. Em Araraquara, o Prof. Leandro Martins (IQ-UNESP) abriu as portas do seu grupo, lá fui muito bem recebido e fiz grandes amigos. Essa sinergia entre os grupos de materiais e catálise sempre fez muito sentido e ótimos churrascos. Nessa altura o Prof. Celso já me cobrava, e com razão, uma experiência do exterior. Foi aí que tomei a melhor decisão da minha vida até então, ir para Espanha, trabalhar no Grupo de Tamices Moleculares liderado pelo Prof. Joaquín Peréz-Pariente (ICP-Madrid). Além da qualidade técnica amplamente conhecida que todos do GTM têm, eu fui acolhido dentro de uma família e assim me senti durante todo esse ano em que lá estive. Fruto dessa parceria, uma nova argila pertencente ao grupo das esmectitas foi obtida pela primeira vez. Chamada de VAM (Vandosilicate Araraquara Madrid), a argila leva os nomes das cidades das respectivas instituições.
A essa altura me inquietava um distanciamento profundo e longo entre a universidade e indústria. Sentia que faltava um desafio de sair do “conforto” de mais de 10 anos dentro da academia. O grande amigo Dr. André Silva me ajudou nessa transição, e então fui para Braskem trabalhar em projetos de P&D. Apesar de uma passagem rápida, a quantidade de conhecimento e aprendizado foi enorme e sem dúvida me preparou de forma consistente para assumir a posição que ocupo hoje. Uma oportunidade surgiu na Rhodia Brasil, empresa do Grupo Solvay, onde atualmente sou Pesquisador Sênior da Unidade Global de Negócio chamada Coatis. Dentro da P&D ajudamos a desenhar a ambição da empresa para o futuro e hoje lidero projetos que estão diretamente ligados à sustentabilidade. Adicionalmente a P&D, tenho dado suporte a pelo menos 4 plantas industriais: Fenol, Ácido Nítrico, HMD e Ácido Adípico, todas dentro da cadeia do Fenol/Nylon. Os desafios agora são outros, as abordagens são outras e consequentemente o aprendizado segue enorme e motivador. Aqui é o momento que recorremos aos livros de catálise, que lembramos das aulas de Bueno, do Carmo, Cardoso, Falabella, Fréty, Leiras, Martins, Schmal, Schuchardt; que vemos beleza em uma tela de Pt-Rh incandescente, e nesse momento temos a certeza que fizemos a escolha certa.
Muitos nomes importantes não estão contemplados aqui, mas fiz questão de citar vários para mostrar, além da minha gratidão por todos eles (citados e não citados), que o importante são as relações que construímos, e é esse também o nosso papel junto a SBCat. Finalmente, lembre-se, o envio de e-mail segue sendo grátis, conecte-se sem moderação.
Agradecer a SBCat pela oportunidade de descrever um pouco sobre minha trajetória acadêmica e profissional. Fico muito feliz pelo convite, ainda mais por ter lido vários relatos de profissionais da sociedade que admiro bastante.
Sou original de Fortaleza, estado do Ceará, oriundo de uma família que migrou de Solonópole-CE para capital em busca de uma vida melhor. Os principais responsáveis pela minha trajetória inicial nos estudos foram meus pais que sempre se sacrificaram para fornecer o melhor para os filhos e a educação sempre foi a prioridade principal.
Meus primeiros contatos com a química foram durante o ensino fundamental nas aulas de ciências, mas o contato mais direto foi no ensino médio, onde tive a oportunidade de estudar com um professor bastante capacitado que tinha a preocupação de mostrar o lado prático da química. O interesse imediato, principalmente pela química, mas também pela física e matemática me levaram a escolher o curso de química industrial como futura profissão, onde iniciei minha graduação em 2003 na Universidade Federal do Ceará (UFC) até 2006.
No terceiro semestre do curso de graduação fui aprovado como bolsista CAPES através do Programa de educação tutorial (PET) que tem como filosofia de trabalho a realização de atividades de ensino, pesquisa e extensão. Apesar de ter tido oportunidade de participar de diferentes grupos de pesquisa na graduação, meu contato inicial com a catálise foi durante o trabalho de conclusão de curso, no Langmuir-Laboratório de Adsorção e Catálise no Departamento de Química Analítica e Físico-Química da UFC sob a orientação do professor Antoninho Valentini.
Essa rica experiência obtida no PET e o excelente trabalho construído em conjunto com professor Antoninho Valentini na área de catálise heterogênea, me fez despertar um grande interesse na pesquisa científica e na área acadêmica. Portanto, logo após o término da graduação, me engajei no Programa de Pós-Graduação em Química da UFC para fazer o mestrado em química inorgânica (2007-2009) e, em seguida, doutorado em química (2009-2012) no mesmo grupo de pesquisa. Professor Antoninho foi uma fonte de inspiração incrível, pois além de ter um amplo conhecimento na área, tem uma criatividade experimental incrível, monta equipamentos e sistemas catalíticos partindo do zero.Pelo fato de ter passado toda minha formação acadêmica na mesma instituição, necessitava ter uma experiência em outro local fora da UFC. Portanto, no quarto semestre do doutorado, tive a oportunidade de participar do programa doutorado sanduiche da CAPES, onde passei um ano no Institut de Recherche sur la Catalyse et L’environnement (IRCE) em Lyon na França coordenado pela pesquisadora Nadine Essayem. O IRCE é um centro de pesquisa na área de catálise e materiais bastante renomado no mundo. Este período na França aprendi bastante com os pesquisadores do IRCE e tive a oportunidade de operar vários equipamentos e sistemas catalíticos. Tive uma curta passagem como pós-doc no Departamento de Física da UFC no Laboratório de Raios X supervisionado pelo professor José Marcos Sasaki, onde me aprofundei na parte quantitativa da difração e sua correlação com a catálise.
Em janeiro de 2014 ingressei como professor de físico-química no Instituto de Química da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Logo em seguida, tive o privilégio de ingressar no Laboratório de Peneiras Moleculares (LABPEMOL) coordenado pela professora Sibele Pergher, onde tivemos a oportunidade de criar o laboratório de catálise e ampliar ainda mais as linhas de pesquisa do grupo. Continuo me dedicando a catálise como professor, onde estou podendo contribuir para a formação de vários estudantes de graduação, mestrado e doutorado com pesquisas voltadas neste campo. Como frutos destas orientações, também nós tivemos oportunidade de divulgar os resultados obtidos em revistas científicas da área, capítulos de livros, livros e anais de congresso. Sempre procuro compartilhar o conhecimento ofertando disciplinas no tema para os estudantes de pós-graduação e minicursos para graduação, visando divulgar os fundamentos teóricos da catálise. Os principais temas de pesquisas que venho trabalhando estão relacionados a síntese e caracterização de óxidos metálicos e ligas magnéticas com propriedades ácidas-básicas-redox, valorização catalítica do glicerol e etanol, desidrogenação oxidativa de hidrocarbonetos, fixação do CO2, fotocatálise.
Todas as conquistas foram frutos de várias parcerias nacionais e internacionais. Conheci muitas pessoas durante esses anos na acadêmica, muitas me servem de inspiração até hoje, além de ter feito muitas amizades. Por fim, desde o inicio da carreira acadêmica, sou credenciado a sociedade Brasileira de Catálise (SBCat) e participo constantemente dos congressos ENCat, CBCat e CICat, onde sempre compartilho momentos incríveis.
A formação de novos recursos humanos em catálise é uma das minhas principais motivações profissionais, agradeço a todos que tive a honra de trabalhar e espero poder estar me aprofundando no tema por muitos anos.
Nasci em São Paulo, mas me mudei para Campinas com 2 anos de idade. Meu pai é químico, mas não conversávamos muito sobre o tema e, por isso, ele se surpreendeu quando eu escolhi química no vestibular. Fui aprovado na UFSCar e na UNICAMP e, pela proximidade, escolhi a UNICAMP. Meu encontro com a UFSCar teria que esperar mais alguns anos.
Iniciei a graduação no IQ-UNICAMP em 2000 e logo nas primeiras semanas de aula comecei a procurar iniciação científica. Queria algo aplicado e um colega de turma me sugeriu a catálise. Embora soubesse muito pouco sobre o tema, fui procurar na internet e encontrei o site da SBCat. Na lista de sócios encontrei o nome do Prof. Ulf Schuchardt.
No grupo do Ulf, foram 4 anos de iniciação científica. Em 2003, motivado pelo Ulf, participei do meu primeiro Congresso Brasileiro de Catálise, em Angra dos Reis-RJ, organizado pelo Prof. Victor Teixeira. Sai desse congresso com a certeza de que era na catálise que eu queria construir minha carreira.
No ano seguinte ingressei no mestrado, ainda sob orientação do Ulf e com coorientação da Profa. Heloise O. Pastore. Defendi o mestrado um pouco antes do 13° CBCat em Foz do Iguaçu, organizado pelo José Maria Bueno. Mal sabia eu que anos depois o Zé Maria viria a ser meu supervisor. Nesse congresso fiz minha primeira apresentação de trabalho na forma oral.
Em 2015, iniciei o doutorado em um programa de cotutela entre a UNICAMP e a UPO na Itália. Fui orientado pela Lolly e pelo Prof. Leonardo Marchese. Fique 3 anos na Itália e 2 no Brasil. Mesmo com essas idas e vindas, consegui participar do 14° CBCat em Porto de Galinhas, organizado pelo Prof. Luiz Pontes.
Defendi meu doutorado em 2010 e no mesmo ano me mudei para os EUA, onde fiquei até 2013 realizando pós-doutorado com o Prof. James Dumesic na University of Wisconsin-Madison. Mesmo longe do Brasil, em 2011 consegui participar do 16° CBCat em Campos do Jordão, organizado pelo Prof. Dalmo Mandelli e pelo Prof. Wagner Carvalho.
Voltei dos EUA em 2013 e comecei o pós-doutorado no grupo do Zé Maria no DEQ-UFSCar. Em 2014, fui contratado como professor de química inorgânica no DQ-UFSCar. Desde então venho dividindo laboratório com a Profa. Clelia Marques e contando com o apoio do Zé Maria.
O 18° CBCat, de novo organizado pelo Pontes, foi meu primeiro como professor. Em 2016, fui agraciado com o Projeto Jovem Pesquisador da FAPESP, que financiou o estabelecimento do meu grupo de pesquisa em conversão de biomassa. No mesmo ano fui convidado pelo Journal of the Brazilian Chemical Society para contribuir em uma edição especial dedicada a Pesquisadores Emergentes. Em 2017, recebi a Experienced Researcher Fellowship da Fundação Alexander von Humboldt e me mudei para a Alemanha. Passei um ano como Professor Visitante no grupo do Prof. Winfried Plass na Friedrich Schiller University Jena. Mesmo estando longe, não deixei de vir para o 19° CBCat, organizado pelo Prof. Luiz Carlos de Oliveira. Esse foi um dos CBCat mais marcantes na minha carreira, pois recebi o prêmio Pesquisador em Catálise da SBCat e fui eleito como Coordenador da Regional 3 da SBCat. Além disso, em 2018 fui eleito vice-coordenador da Divisão de Catálise da SBQ.
O 20° CBCat em São Paulo, organizado pela Profa. Daniela Zanchet e pela Profa. Liane Rossi foi muito especial, pois pude colaborar com a Daniela, a Liane, a Lolly e o Zé Maria na comissão executiva e na comissão científica. Aprendi muito com esses colegas e, em meio a todas as dificuldades, conseguimos organizar um grande congresso. Fui também reeleito Coordenador da Regional 3 da SBCat e em 2020 fui eleito tesoureiro da Divisão de Catálise da SBQ
Nesses primeiros anos da minha carreira acadêmica, tive a sorte de ter em meu grupo alunos de pós-graduação brilhantes, motivados e dedicados. São eles: Pedro H. Finger , Eduardo Scolari, Taynara Osmari, Juliana P. Lorenti, Matheus Costa, Natalia M. Cabral, José Lucas Vieira, Marcelo S. Lima, Gustavo D. Iga e Michelle S. Cordeiro. A eles deixo meu agradecimento. Graças ao trabalho desses jovens, em 2021, fui convidado para compor o Early Career Board da prestigiosa revista ACS Sustainable Chemistry and Engineering e também fui indicado pela ACS Industrial & Engineering Chemistry Research como 2021 I&EC Research Class of Influential Researchers. Além disso, fui convidado pelo European Journal of Inorganic Chemistry para contribuir em um Special Issue dedicado a Químicos Inorgânicos Latino Americanos.
A SBCat esteve presente em todas as etapas da minha carreira e participando dos CBCat pude aprender com grandes pesquisadores e fazer muitos amigos. Portanto, aos mais jovens, sugiro que participem e contribuam com a nossa Sociedade de Catálise.
Sou natural da Rússia, nasci numa pequena cidade na Sibéria numa família de professores. A minha juventude coincidiu com uma época de rápido progresso da Ciência e Tecnologia na União Soviética. A profissão de cientista era uma das mais prestigiadas e respeitadas na sociedade, o que despertava um grande interesse entre os jovens. Como resultado da participação em olimpíadas escolares de física e matemática, fui selecionada para cursar o 2o grau no colégio interno da Universidade Federal de Novossibirsk com programa com ênfase em ciências exatas. O colégio e a universidade faziam parte da Academia de Ciências da União Soviética.
No último ano do ensino médio me interessei pela Fisico-Química e em 1970 entrei para o curso de Química da Universidade Federal de Novossibirsk, escolhendo a Catálise como a área de minha especialização. Ingressei em 1973 na Cátedra de Catálise, cujos professores eram pesquisadores do Instituto de Catálise da Academia de Ciências. Durante dois anos eu estive desenvolvendo o trabalho de conclusão de curso no grupo de Catálise por Heteropoliácidos deste Instituto sob a orientação do Prof. Klavdii Matveev. O meu interesse por esta fascinante área permanece até dias atuais. Mantenho uma efetiva colaboração com o meu ex-colega do grupo – Prof. Ivan Kozhevnikov (University of Liverpool, UK), o qual se tornou uma referência internacional no campo de heteropoliácidos.
Em 1975, entrei no programa de doutorado do Instituto de Catálise sob a orientação do Prof. Yuri Yermakov e Dr. Vladimir Likholobov. O tema do meu projeto foi o desenvolvimento de processos homogêneos para a oxidação seletiva de olefinas. A catálise por complexos de metais de transição atraía grande atenção naquela época, devido à habilidade excepcional desses elementos em ativar os substratos orgânicos e promover interações entre eles. Pensando nas opções entre os vários grupos do Instituto para meu doutorado, decidi trabalhar nessa promissora área, o que acabou determinando o rumo de toda a minha carreira científica. Desde então, a Catálise Organometálica continua sendo o meu principal interesse e a principal área da minha atuação em Catálise.
Em 1978, fui contratada como pesquisadora pelo Instituto de Catálise em Novossibirsk (atual Boreskov Institute of Catalysis). A maioria dos nossos projetos envolvia processos com uso de derivados de petróleo como matéria prima. Devido a isso, além de realizar a pesquisa básica, mantivemos uma constante colaboração com a Indústria Petroquímica desenvolvendo projetos aplicados. No final dos anos 80, encontrei primeiros brasileiros na minha vida – um grupo de cientistas-catalíticos – Martin Schmal, Maria Isabel Pais da Silva, José Luiz Monteiro e Paulo Leite (CENPES/Petrobras) – visitou nosso Instituto, estando eu envolvida na recepção deste grupo. Naquela época não poderia imaginar que poucos anos depois o Brasil iria se tornar a casa para minha família. Em 1990, tive oportunidades muito raras para um cientista da União Soviética: um estágio na Alemanha (Ludwig-Maximilians-Universität München) no grupo do Prof. Helmut Knözinger e o outro estágio na Inglaterra (Humberside Polytechnic) no grupo do Dr. Alan Allison. Essas experiências internacionais foram muito importantes para ampliar meus horizontes científicos e pessoais.
Em 1992, meu marido Nikolai Goussevskii foi convidado como Pesquisador-Visitante pelo Instituto de Matemática da USP em São Paulo e, em novembro, nossa família chegou no Brasil. Ao procurar o Instituto de Química da USP, fui convidada pelo Prof. José Manuel Riveros a lecionar um curso de Catálise no programa de pós-graduação. Inicialmente permaneci com uma bolsa da Pró-Reitoria de Pesquisa e depois como Pesquisadora-Visitante do CNPq desenvolvendo projetos na área de catálise com Prof. João Valdir Comasseto e Profa. Anna Maria Felicíssimo. Em maio de 1993, na Reunião Anual da SBQ em Caxambu conheci várias estrelas da catálise brasileira, entre elas Ulf Schuchardt, Roberto de Souza e Jairton Dupont. Logo depois, fui convidada pelo Prof. Martin Schmal para promover seminários na UFRJ e no CENPES, onde conheci Eduardo Falabella e Octavio Antunes, entre outras pessoas. Em 1993 ainda, num Workshop em Catálise na USP conheci o Eduardo Nicolau dos Santos. Gostaria de expressar meus sinceros agradecimentos à essas pessoas e à toda comunidade científica do Brasil, que me receberam de braços abertos, proporcionando-me a oportunidade de continuar minha atuação profissional.
Em 1994, nos mudamos para Belo Horizonte, onde meu marido e eu fomos contratados pela UFMG, primeiro como professores visitantes e em 1995 como professores do quadro permanente dos Departamentos de Matemática e de Química, respectivamente. O meu ingresso na UFMG foi incentivado pelo Prof. Eduardo Nicolau dos Santos, na época um recém-contratado professor da UFMG. Desde então, somos parceiros no Grupo de Catálise. No início de nossas atividades tivemos forte apoio do Prof. Carlos Filgueiras e outros colegas do Departamento. Acredito que ao longo dos anos seguintes conseguimos criar um grupo científico produtivo, em ambiente de cooperação, criatividade e apoio mútuo, onde os alunos não somente completam sua formação acadêmica, mas também desenvolvem o interesse e a curiosidade pela ciência e aprendem os fundamentos éticos da pesquisa e da colaboração científica.
O principal interesse do nosso grupo está focado no desenvolvimento de processos catalíticos para a valorização de matéria-prima proveniente da biomassa, renovável e disponível no Brasil, com ênfase especial na oxidação seletiva, hidroformilação, hidrogenação e transformações catalisadas por ácidos. O grupo vem mantendo várias colaborações nacionais e internacionais. Em 1997, fomos convidados para participar da Red CYTED de catálise homogênea (Programa Iberoamericano de Ciência y Tecnología para el Desarrollo), o que possibilitou estabelecer importantes contatos internacionais. Tivemos ou temos colaborações com grupos de pesquisa da Inglaterra, França, Alemanha, Mexico, Rússia, Espanha, Colômbia, Portugal e Venezuela. Em 2009, pelo convite do saudoso Prof. Faruk Nome nós integramos o INCT-Catálise, do qual fazemos parte até os dias atuais, o que impactou significativamente o progresso do grupo.
Tenho o maior orgulho de ser sócia-fundadora da Sociedade Brasileira de Catálise, onde tenho muitos colegas, amigos e colaboradores. Fiz questão de participar pessoalmente em todos os Congressos Brasileiros de Catalise desde sua 8o edição realizada em 1995 em Nova Friburgo/RJ. Durante a minha carreira, tive o privilégio de trabalhar com excelentes colaboradores e excelentes alunos. Gostaria de deixar aqui meus agradecimentos a todos eles pela sua dedicação, entusiasmo e grande contribuição para o desenvolvimento de nossa pesquisa.
Eu inicio esta descrição com grande honra e satisfação pelo convite da presidência da SBCat, mesmo enfrentando o desafio de falar sobre minha recente trajetória profissional na Catálise, diante de pesquisadores exemplares descritos no Quem Somos.
Após concluir a graduação em Química Industrial na Universidade do Estado da Paraíba (UEPB) em 2006, logo fui trabalhar em Brasília atuando como químico responsável em laboratórios de controle de qualidade de empresas que prestavam serviço técnico para órgãos federais. Depois de quase 3 anos atuando profissionalmente percebo que a área acadêmica motivava meus pensamentos, e assim planejo voltar para o Nordeste e cursar o mestrado acadêmico. Ao alcançar aprovação no Mestrado em Química (PPGQ) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), por incentivo da grande amiga de graduação e doutoranda no PPGQ/UFRN, Edjane Buriti, iniciei a busca por orientação. Por indicação de Edjane, conheci o Laboratório de Catálise e Petroquímica (LCP/UFRN) coordenado pelo docente e pesquisador Dr. Antônio Souza de Araújo, que prontamente me aceitou como orientando. Na ocasião, relatei o interesse em pesquisar sobre biocombustíveis, pois já tinha experiência em trabalhar com óleos vegetais refinados, e devido a significativa quantidade de alunos investigando esta área no LPC, o prof. Antônio me sugeriu trabalhar com catálise. Neste momento, com certa insegurança por não conhecer nada da área, aceitei o desafio e na semana seguinte tinha que propor o tema para meu trabalho de mestrado.
Deste ponto em diante, a minha trajetória profissional se assemelha a uma síntese de zeólita. Do mesmo modo que iniciamos com uma busca no banco de dados da International Zeolite Association (IZA), fiz a minha pesquisa inicial, abordando a temática de síntese das zeólitas ZSM-12 e ZSM-5 para conversão de gasóleo de vácuo por reações de craqueamento, que logo em reunião com prof. Antônio foi bem vista e acatada. Em sequência, as atividades do mestrado se desenvolveram conforme o controle das variáveis para obtenção do gel de síntese, algumas fáceis de controlar, outras mais laboriosas. E em paralelo, a convivência com o grupo de pesquisa do LPC se aprofundava, proporcionando uma colaboração para escrita de um artigo científico com Anne Gabriella sobre o estudo cinético do biodiesel do óleo de girassol, que por fim rendeu uma publicação internacional e um namoro, alcançando 100% de rendimento conforme o próprio prof. Antônio alegremente comentava. Passados 2 anos sob a orientação do prof. Antônio, em 2011 eu conclui o mestrado e fui aprovado no doutorado do PPGQ/UFRN, de forma semelhante ao término de uma síntese e sua caracterização por raios-X, comprovando única fase zeolítica bem cristalina. Em continuidade com a orientação de prof. Antônio, sigo com a temática de síntese de zeólitas aplicadas em reações de craqueamento, porém trazendo a inovação de trabalhar com zeólitas de porosidade hierarquizadas. De modo equivalente às determinações das propriedades texturais das zeólitas, eu conheci a professora e pesquisadora Dra. Sibele Pergher, que sempre tornou acessível seus conhecimentos, desde os macroporos até o microporos, para contribuir e colaborar com a minha formação.
Desde o ingresso no mestrado, as participações nos encontros regionais, escolas e congressos nacionais de catálise promovidos pela SBCat oportunizaram o fortalecimento do meu conhecimento na área, permitiram a proximidade com reconhecidos pesquisadores no Brasil (dentre eles o Dr. Dilson Cardoso e Dr. Yiu Lau Lam), e revelaram a amizade e descontração entre os sócios da SBCat nas festas e jantares de encerramento. Como a detecção da composição química de uma zeólita e definição de sua razão molar Si/Al, eu percebi que esta área de atuação integralizava os meus desejos acadêmicos.
E no segundo ano do doutorado, eis que surge a oportunidade de um período sanduíche de 12 meses (PDSE), acordado com o prof. Antônio que seria na Universidad Rey Juan Carlos (Espanha) sob coorientação do Dr. David Serrano. Desbravando a primeira viagem internacional e o primeiro contato com os pesquisadores (David Serrano, Ángel Peral e Maria Linares) fui bem acolhido e recebido. Dedicado e empenhado durante os 12 meses de estágio alcancei resultados promissores para minha tese, e ao retornar para o Brasil, no final de 2013 defendo a minha tese intitulada “síntese e caracterização de zeólita Beta Hierarquizada e materiais híbridos micro-mesoporosos aplicados no craqueamento de PEAD” em 3 anos de doutorado. Em consonância com a árdua tarefa de determinar e quantificar os tipos e sítios ácidos de uma zeólita, se consolidar como docente e pesquisador no Brasil requer superar um grande obstáculo.
Por eventualidade, ainda em 2013, uma bolsa de pós-doutorado (PNPD/CAPES) surgiu na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN/Mossoró-RN), e fui aprovado para desenvolver o projeto de pesquisa intitulado “Desenvolvimento de catalisadores aluminosilicatos microporosos e mesoporosos para aplicações ambientais” sob mentoria do prof. Dr. Luiz Di Souza, coordenador do Laboratório de Catálise, Ambiente e Materiais (LACAM/UERN). No decorrer dos anos, me sinto bem acolhido por compartilhar as atividades acadêmicas ao lado de Anne Gabriella (atualmente companheira), Luiz Di Souza (eterno amigo, profissional e ser humano brilhante – in memorian) e demais docentes de Departamento de Química e Programa de Pós-graduação em Ciências Naturais (PPGCN/UERN). E de forma similar à comprovação que a zeólita sintetizada demonstra eficiente atividade catalítica na reação modelo, no final de 2016 fui aprovado no concurso como professor do Departamento de Química (DQ/UERN).
No início de 2017, já sendo docente permanente do Programa de Pós-graduação em Ciências Naturais, tenho a primeira aluna de mestrado com a dissertação concluída, continuo o desenvolvimento de pesquisas na área de Catálise, contribuindo com os grupos de pesquisa em Nanomateriais e Tecnologia Ambiental na UERN, e colaboro com as parcerias e fortes relações profissionais conquistadas nessa curta trajetória. Mesmo diante de algumas adversidades, sempre desempenhei com muito esforço, dedicação e paixão as minhas atividades docentes e como pesquisador nos cursos de Licenciatura em Química e Mestrado em Ciências Naturais.
Como uma zeólita bem sintetizada, amplamente caracterizada e pronta para diversas aplicações, me sinto preparado para amadurecer minha experiência profissional em ensino e pesquisa, principalmente nas áreas de síntese de materiais catalíticos e adsorventes, tecnologias químicas aplicadas a processos ambientais, e síntese e caracterização de biocombustíveis. E por fim, eu gostaria de expressar a minha imensa gratidão à SBCat por possibilitar a conectividade entre pesquisadores nacionais e internacionais, ampliar a disseminação do conhecimento em catálise motivando graduandos e pós-graduandos, e incentivar relações profissionais que se convertem em afetuosas relações pessoais.