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21 12 SBCAT 2020 quemsomos NotíciaA opção pela Engenharia Química se deu, sobretudo, pela forte sedução exercida sobre o jovem niteroiense que cursava o secundário no Instituto Abel (“rival” do Salesianos, do Leonardo) pela propaganda da Petrobrás no rádio (a televisão engatinhava no Brasil) no início dos anos 60: “Petrobrás: capital, trabalho e técnica nacionais a serviço do Brasil .... e dos  brasileiros”. Trabalhar na Petrobrás era o meu projeto de vida profissional. E o primeiro passo foi dado quando iniciei minha graduação na Escola de Química em 1967. Tempos difíceis no Brasil nesta e na década seguinte, sobretudo para os setores ligados à cultura. Paradoxalmente, o isolamento internacional do Brasil e as políticas de substituição de importações, desenvolvimento de tecnologia nacional e outras abraçadas pelos governantes de então, mostraram-se muito estimulantes para os setores da ciência que pudessem contribuir para esse projeto. Quando a Coppe deixou as modestas instalações da Praia Vermelha e se mudou para a Ilha do Fundão, em 1967, o Programa de Engenharia Química (PEQ) deu uma guinada nas suas linhas de pesquisa, consideradas teóricas até então, e passou a investir em trabalhos de natureza experimental. E essa perspectiva me atraiu e me fez aceitar o convite dos saudosos Giulio Massarani e Carlos Augusto Perlingeiro para lá desenvolver um trabalho de iniciação científica com carvão sob orientação de Arlindo de Almeida Rocha que, logo depois, ao partir para o doutorado em Stanford, me deixou de “herança” para Maury Saddy,  recentemente retornado de seu doutorado em Londres (Imperial College). Arlindo, Carlos Russo e Saddy foram pioneiros na ocupação do sub-solo do bloco I do Centro de Tecnologia, onde construíram, no final da década de 60, os primeiros e precários laboratórios próprios do PEQ, que até então ocupava áreas cedidas por outros. Nascia ali o Grupo de Reatores e Cinética Aplicada (RCA), mais tarde Grupo de Cinética e Catálise, embrião do que seria, duas décadas depois, o Núcleo de Catálise (Nucat). Foi essa troca de orientador de IC que me permitiu ter o primeiro contato com a catálise, quando Saddy me pediu para auxiliar seu orientado Saul D’Ávila nos experimentos finais de sua tese de doutorado, intitulada “Oxidação Catalítica de Crotonaldeído a Anidrido Maleico”, assunto de interesse da Rhodia. A tese de Saul, defendida em 1971, foi a segunda tese de doutorado da Coppe, a terceira em engenharia no Brasil (a primeira foi no ITA) e a primeira de doutorado da engenharia química e, salvo alguma falha documental, da catálise heterogênea brasileiras. E eu recebi meu batismo de fogo na catálise.

NOVOS CAMINHOS

Mas, apesar de seu pioneirismo no meio acadêmico do Rio de Janeiro, onde trabalhos iniciais em catálise começavam também a ser desenvolvidos nas modestas instalações do Cenpes ainda na Praia Vermelha, a tese de Saul se mostrou um esforço pontual e sem continuidade, já que nem ele nem Saddy, como de certa forma já ocorrera com Ciola em São Paulo, não fizeram da catálise o foco de suas carreiras.  O trabalho em catálise nas universidades brasileiras e no PEQ, em particular, só deslanchou realmente quando, no início da década de 70, tendo retornado de seu doutorado na Alemanha, Schmal , que, como quase todos os outros pioneiros (Leonardo Nogueira parece ser a única exceção) não tinha formação em catálise, decidiu dedicar sua vida profissional a essa ciência. E eu, nesse momento, também havia me afastado da catálise, envolto com meu mestrado e meu doutorado, ambos sob orientação de Saddy e ligados ao estudo da cinética das reações gás-sólido. E aí quase que a Petrobrás entrou na minha vida. Tendo iniciado meu doutorado em 1974, fui, neste ano, convidado a participar do processo seletivo para ingresso no Cenpes, que buscava se expandir nas suas novas instalações na Ilha do Fundão/Cidade Universitária, para onde havia se mudado no ano anterior (a seleção para o Cenpes, naquele momento, foi um processo direto, independente dos concursos da Petrobrás).  Nessa época, sob a liderança de Leonardo Nogueira, a catálise ia aos poucos se firmando no Cenpes, o que culminou com a criação da Divisão de Catálise (Dicat) em 78. Quando eu já estava com um pé na Petrobrás, a ponto de realizar meu sonho da adolescência, fui convidado pelo PEQ para integrar seu corpo docente e decidi abraçar a carreira acadêmica. Mas a catálise viria a me reaproximar em futuro próximo da Petrobrás e do Cenpes.  A minha tese de doutorado se arrastou por seis longos anos, como ocorreu com todos os outros jovens docentes do PEQ naquela época, envolvidos que fomos nas atividades acadêmicas, administrativas e de consolidação dos laboratórios, em um momento particularmente difícil da vida da Coppe, após o afastamento de seu fundador, Coimbra, em 1973. Defendido o doutorado em 1980, fui como visitante para a University of Cambridge (UK), de onde voltei no ano seguinte.

A CONSOLIDAÇÃO

 Ao contrário do refino, na prática um monopólio da Petrobrás, a petroquímica envolvia um grande número de empresas que se instalaram nos chamados polos petroquímicos, a partir do modelo tripartite: uma empresa estatal (Petroquisa), uma empresa privada nacional e um sócio estrangeiro que aportava capital e  tecnologia própria. Mas logo ficou claro para essas empresas que, uma vez dominada a tecnologia, do ponto de vista operacional, que a total dependência do sócio estrangeiro quanto a futuros desenvolvimentos era uma limitação séria. E elas se aproximaram das universidades em busca de apoio para o entendimento e domínio dos processos catalíticos que praticavam. E então o trabalho desenvolvido por Schmal, sobretudo junto às indústrias de Camaçari, começou a render frutos. E eu passei gradativamente a me envolver cada vez mais com a catálise, que se firmava no cenário acadêmico e industrial brasileiro a partir de iniciativas (já citadas por outros) como o PRONAC, a Comissão de Catálise do IBP, o Seminário Brasileiro de Catálise, etc. E me apaixonei pelas zeólitas, e sua estrutura porosa desafiadora, quando em 1984 coordenei o projeto “Desproporcionamento de Tolueno” para a Copene (onde Marco Ebert e Fernando Lira, já citados pelo Luiz Pontes, se destacavam pelo seu entusiasmo). O projeto para a Copene foi o ponto de partida para as teses de mestrado de José Geraldo Pacheco Filho (em coorientação com o Schmal) e de Carlos Albert Krahl. A tese do José Geraldo, defendida em 1986, foi, aparentemente, a primeira tese com zeólitas desenvolvida no Brasil e que gerou o primeiro artigo brasileiro sobre zeólitas a ser publicado em revista de circulação internacional (Catalysis Today), em 1989. Da mesma forma, a tese de doutorado de Stella Regina Reis da Costa, defendida em 1991 (novamente com orientação partilhada com Schmal), parece ter sido a primeira com zeólitas no Brasil. A orientação da tese da Stella me levou em 1988 a um período de três meses como visitante no Institut  de Recherche sur la Catalyse (Lyon), onde ela desenvolvia  parte da caracterização das zeólitas usadas na sua tese, e na Université de Poitiers (Poitiers), ambos na França. Nessas instituições tive a oportunidade de conhecer de perto algumas técnicas ainda indisponíveis no Brasil e conviver com pesquisadores experientes como Jacques Védrine, Claude Nacache e Michel Guisnet, dentre outros. Ao longo da década de 90 o meu trabalho com zeólitas se consolidou, sobretudo a partir da criação do Nucat e da interação com o Cenpes e sua equipe altamente qualificada, cujo apoio com as técnicas analíticas foi decisiva. E deu origem a uma colaboração extremamente gratificante e a uma sólida amizade com Eduardo Falabella Sousa-Aguiar. Mas minha carreira científica não teria me trazido tantas alegrias se não fosse a parceria com Cristiane Assumpção Henriques. Ao mesmo tempo, novas linhas foram exploradas, como a catálise básica, os materiais mesoporosos, a Química Fina e outros, sem abandonar os estudos cinéticos.

CONCLUSÃO

Trabalhos em colaboração foram sempre uma constante ao longo da minha carreira. Enquanto nas empresas a norma é o trabalho em equipe, presente até nos processos seletivos, o ambiente acadêmico muitas vezes estimula o individualismo e a busca por protagonismo. É com satisfação que sempre que examino minha produção científica observo que as parcerias estão presentes na grande maioria das publicações. Por isso optei por citar nomes ao fazer esse relato, mesmo ciente do risco de omissões e imprecisões, que poderão ser corrigidas por outros depoimentos. A partir do início da década de 2000 me afastei progressivamente do ambiente acadêmico e me envolvi com a atividade administrativa da UFRJ (até me aposentar em 2007), quando tive o privilégio de ocupar o cargo de Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa por 5 anos(o que me levou à presidência do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Pós-Graduação e Pesquisa) e de Reitor em exercício por dois períodos de três meses (num desses períodos fui anfitrião do então presidente Lula quando de sua visita à UFRJ). Hoje, cerca de 15 anos após ter deixado minhas atividades científicas e buscado novos caminhos,  é com inegável satisfação que quase toda semana recebo uma notificação de meus trabalhos sendo citados por outros autores na literatura internacional. Finalmente, mas não menos importante, a carreira acadêmica me permitiu participar da formação de um contingente de profissionais brilhantes (foram 41 teses de mestrado e 14 de doutorado orientadas) que se transformaram em amigos sinceros.

Valeu a pena.

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