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24 08 SBCAT Noticia SoraiaMeu interesse pela Catálise surgiu durante a iniciação científica, sob orientação da Profa. Adelaide Viveiros (IQ-UFBA), e nos estágios do curso de Engenharia Química da UFBA, na Oxiteno/ Setor de Engenharia de Processos (Camaçari, BA), e na COPENE (atual Braskem)/ Divisão de Pesquisa em Catálise (DICAT), sob supervisão da Dra. Maria Isabel Pais da Silva, atualmente, professora de Engenharia Química da PUC-RJ. A participação em um curso extracurricular sobre fundamentos em Catálise heterogênea, em 1986, também foi importante para a definição da futura área de atuação profissional, a pesquisa em Catálise.

No final do curso de graduação em Engenharia Química (junho de 1988) fui aprovada na seleção para o curso de Especialização em Petroquímica da Petroquisa (CENPEQ) e na Seleção para o curso de Especialização em Petroquímica, oferecido pela Universidade de Bolonha (UNIBO), em parceria com o grupo ENI (empresa de petróleo italiana) e financiado pelo Ministério das Relações Exteriores Italiano. Vislumbrando atrelar uma boa formação acadêmica a uma experiência internacional, optei pelo curso de especialização oferecido pela Universidade de Bolonha/ENI, uma das mais tradicionais instituições de ensino, fundada no ano de 1088.

Durante a disciplina de Cinética e Catálise, ministrado pelo Prof. Ferruccio Trifirò (UNIBO), renomado pesquisador em Catálise para Oxidação, houve o convite para realizar o trabalho de conclusão do curso de especialização no seu grupo de pesquisa. Assim, em janeiro de 1989 iniciei o estágio em pesquisa, no Departamento de Química Industrial da UNIBO, sob a supervisão do Prof. Gabriele Centi (atualmente na Universidade de Messina), sobre a Oxidação seletiva de n-butano utilizando catalisadores heteropolicompostos.

Ainda em 1989, houve a possibilidade de prestar seleção no doutorado no Politecnico di Milano (POLIMI), Dipartimento Giulio Natta, no grupo de pesquisa em Catálise, coordenado pelo Prof. Pio Forzatti. Ao ser aprovada na seleção, iniciei o doutorado em setembro de 1989 sobre o estudo de catalisadores perovskitas na reação do acoplamento oxidativo do metano, visando a conversão direta do metano em etileno, sob orientação do Prof Pierluigi Villa e coorientação do professor Luca Lietti.

Com o apoio da bolsa de estudos italiana, houve a possibilidade de apresentar os resultados em congressos prestigiosos em Catálise, como o 10th International Congresso in Catalysis (ICC), em Budapest (1992), o que na época só era factível para pouquíssimos pesquisadores brasileiros consolidados. Nestes congressos foi possível discutir resultados e ter novas ideias para a tese. Durante o doutorado houve também interação com o Centro de Pesquisas da Snamprogetti (atualmente SAIPEM), vivenciando a pesquisa tecnológica. Interessantes resultados foram obtidos, e foi depositada uma patente industrial pela Snamprogetti envolvendo alguns dos catalisadores sintetizados durante o doutorado, além da publicação de artigos científicos.

Após a defesa de doutorado em 1993, fui contratada como pesquisadora, pela empresa Becromal SpA (Milão) para o desenvolvimento de materiais utilizados na fabricação de capacitores eletrolíticos. A Becromal é um dos maiores produtores mundiais de folhas de alumínio, a principal matéria-prima utilizada para a construção de capacitores eletrolíticos de alumínio, garantindo a funcionalidade de quase todos os circuitos eletrônicos e aparelhos elétricos, incluindo aplicações em energias renováveis (eólica, solar) e todos os tipos de fontes de alimentação.

Em 1994 houve um convite para participar de um concurso no Instituto de Química da UFBA, e a possibilidade de retornar à casa após tantos anos no exterior, foi um misto de alegria e desafio, em função da discrepância entre as condições de trabalho em pesquisa. Em junho de 1994 fui aprovada no concurso para professor Adjunto no Departamento de Química Geral e Inorgânica, do Instituto de Química da UFBA (IQ-UFBA). Assim, aceitei o desafio, finalizei minhas atividades na Becromal SpA, em dezembro 1994, e ingressei na UFBA em janeiro de 1995.

No período de 1995 a 1997 integrei o grupo de pesquisa em Catálise do IQ-UFBA, atual LABCAT, coordenado pela Profa. Heloysa Andrade, a quem agradeço a oportunidade propiciada. Com a aprovação do primeiros projeto de pesquisa em 1997, na área de Catálise para polimerização utilizando catalisadores metalocenos, obtive espaço físico, e com outros docentes IQ-UFBA, a Profa. Zênis Novais, a Profa. Maria Luiza Corrêa e o Prof. Emerson Salles, foi criado o Grupo de pesquisa em Catálise e Polímeros (GCP), que coordeno desde sua criação, em 1997.

Coordenei vários projetos de pesquisa, CNPq, FINEP, FAPESB, alguns em parceria com a indústria (Braskem e Petrobras) que propiciaram a instalação de uma considerável infraestrutura para a pesquisa em Catálise no GCP, além da criação do Laboratório de raios X e microscopia do IQ-UFBA. Durante as pesquisas em Catálise para polimerização, tivemos a colaboração do saudoso e competente Prof. Roberto Fernando de Souza e do Prof. João Henrique Zimnoch dos Santos (IQ-UFRGS). Ressalto também a importante colaboração da Profa. Simoni Margareti Plentz Meneghetti e do Prof. Mario Roberto Meneghetti (UFAL).

Atualmente estou envolvida, prioritariamente, em pesquisas referentes ao desenvolvimento de catalisadores para obtenção de hidrogênio, combustão catalítica, e conversão de biomassa e de óleos vegetais.

Atuo nos Programas de Pós-graduação em Química (PGQUIM) e Engenharia Química da UFBA (PPEQ) tendo formado 24 mestres, 12 doutores, e mais de 50 alunos de IC e ITI. Dois ex-alunos, a Profa. Lílian Simplício e, recentemente, o Prof. Denilson Costa, foram aprovados em concursos no IQ-UFBA, e integram o GCP. Outros ex-alunos ingressaram em instituições de ensino como UFRB, IFBA e SENAI e na Indústria (Braskem). Ter auxiliado na formação destes profissionais me orgulha profundamente, pois representam nosso futuro!

Coordenei a organização do 10º Congresso Brasileiro de Catálise (CBCat), em Salvador (1999), contando com o apoio do Prof. Luiz Pontes e da Profa. Heloysa Andrade, ambos grandes entusiastas que ajudaram a disseminar a Catálise pelo Nordeste. Participei das comissões organizadoras de vários CBCats e dos encontros regionais da regional 1, os ENCATs.

Realizei estágios de pós-doutorado sobre preparação de catalisadores estruturados, com o Dr. Pedro Ávila e a Dra. Ana Bahamonde, no ICP-CSIC (Madri); experimentos in situ de combustão catalítica, com os professores Luca Lietti e Gianpiero Groppi (POLIMI) e caracterização de catalisadores por HRTEM, com o Prof. François Bozon-Verduraz (ITODYS, Paris 7).

Fiz parte da Diretoria da SBCat, e do Comitê científico da Rede Nacional de Combustão (RNC), da Rede Nacional de Hidrogênio e da Rede de Catálise do Norte e Nordeste (RECAT). As atuações em redes foram muito importantes por aumentarem o intercâmbio com outros pesquisadores e consolidar as linhas de pesquisa do GCP.

Dentre os colaboradores de outras instituições gostaria de lembrar do saudoso e competente, Prof. Victor Teixeira da Silva (NUCAT-COPPE), a quem carinhosamente chamava de primo, com quem coordenei um projeto CAPES/CNPq-PROCAD. Ressalto as colaborações com o Dr. Fabio Bellot Noronha e Dr. Marco André Fraga (INT), Dra. Cristiane Rodella Barbieri (LNLS-CNPEM), Profa. Elisabete Assaf (USP-São Carlos), Prof. José Geraldo (UFPE), Profa. Marluce da Guarda (UNEB) e o Prof. Carlos Augusto Pires (DEQ-UFBA). Destaco a colaboração do Prof. Roger Fréty (atualmente professor visitante, DFQ-UFBA), grande pesquisador francês, que muito ajudou a implantar a Catálise no Brasil.

Mantenho ainda fortes parcerias com instituições italianas, em especial o POLIMI, onde um competente ex-aluno, o Dr. Roberto Batista da Silva Jr. está atuando como pesquisador visitante; e o Instituto Italiano de Pesquisas em Combustão (CNR-IRC, Nápoles), com o Dr. Stefano Cimino e a Dra. Luciana Lisi.

Foram muitos anos de trabalho árduo e conquistas! Agora os desafios são maiores, mas seguimos em luta pela Ciência!

10 08 SBCAT 2020 Publicacao NotíciaLá se vão 44 anos desde que escolhi a Engenharia Química como profissão, em 1977.  Que saudade! Na graduação, fui monitor na disciplina Controle de Processo, na qual aprendi a instalar os controles de uma planta piloto de produção de etanol, nos fundos do prédio da EQ/UFRJ. Porém, me entusiasmei pela catálise nas aulas show do professor, e amigo de sempre, Eduardo Falabella, que me convidou para desenvolver um trabalho em parceria com a indústria. Sempre tive vontade de aprender e realizar no campo, na planta industrial. Fui nessa. O tempo passou rápido e, em junho de 1981, terminei a graduação na UFRJ. Formei-me em 1981 e queria trabalhar na indústria. A crise (sempre há uma crise) e uma oferta imperdível mudaram meus rumos: fui contratado como engenheiro, em setembro de 1981, em um projeto da COPPETEC para ajudar no desenvolvimento de uma pilha alcalina a hidrogênio. Indescritível, top da ciência na época! Fiquei empolgado. E o salário era muito bom! De quebra, cursei, a partir de março de 1982, o Mestrado em Engenharia Metalúrgica e de Materiais na COPPE/UFRJ. O tema da dissertação foi “eletrodos de níquel Raney para a eletrocatálise do hidrogênio”. Defendi a dissertação em maio de 1984, sob orientação da saudosa professora Aída Spínola e uma plêiade na banca: Horário Macedo, Giulio Massarani e Oscar Rosa Matos. Enquanto finalizava a dissertação, fui contratado para um trabalho na Bahia: fazer a imobilização da a-amilase em celulose microcristalina em projeto de tecnologia para produção de álcool etílico a partir da mandioca.

Terminando o mestrado, caí no mundo e mandei o currículo para algumas empresas. Enquanto isso, o professor José Luiz Monteiro me chamou para ser bolsista de um projeto tecnológico na UFRJ. Medidas de fluxos em meio trifásico, utilizando radiação gama. Muito bom trabalhar com ele. Fiquei pouco tempo no projeto e fui selecionado, pelo Marco Ebert e o Fernando Lira, para a Copene (atual Braskem), em novembro de 1984. Era para ajudar na criação de um centro de tecnologia da Empresa na Bahia. Bom, perdi o primeiro “Rock in Rio”, em 1985, mas fiquei na Bahia, onde construí minha vida: família, trabalho e amigos.

Na Braskem, segui a carreira na catálise com pesquisa aplicada, visando ao entendimento dos catalisadores da empresa e, principalmente, à aplicação da catálise no processo industrial. Em 1986, fiz uma pós-graduação latu sensu em Cinética e Catálise, tendo professores como Levenspiel, Grange e Trimm e Ulf entre outros. Em 1987, fiz um treinamento no processo de reforma catalítica de nafta na Universal Oil Products (UOP), em Chicago e, em seguida, passei três meses no Instituto de Catálise e Petroquímica da Argentina (INCAPE), em Santa Fé, com o saudoso Prof. Jose Parera e o ilustre Prof. Carlos Apesteguia. Grande vivência com os hermanos e amizades eternas. Trabalhei com Pt-Re/Al2O3 na reforma de nafta, otimizando a acidez para as reações que ocorrem nos quatro reatores de leito fixo radial da Planta. Na bancada de laboratório, trabalhei com reatores diferenciais, integrais de leito fixo e reatores com reciclo interno (tipo Berty/Carberry), na preparação de catalisadores para o processo de isomerização de xilenos e etilbenzeno e desenvolvi um sistema para carregamento de catalisadores em reatores que aumentou em 20% a capacidades de várias plantas industriais. 

Em 1989 me envolvi com a gestão de PDI na Braskem, mas continuei na vida acadêmica fazendo o doutorado na Unicamp com o saudoso professor Mario Mendes, tendo um estágio na USP, com o fantástico professor Cláudio Oller e boas discussões com o Prof. Galo Le Roux. O assunto foi a modelagem cinética das reações de reforma catalítica de nafta. Nessa época, representei, por alguns anos, a Bahia na Comissão de Catálise do IBP e participei da reunião que decidiu criar a SBCat e lançar o Congresso Brasileiro de Catálise, em 1997.  Sob supervisão de Professor ícone Dilson Cardoso, ajudei na escrita do primeiro estatuto da SBCat. Saí da Braskem em novembro de 1996. Defendi a tese em janeiro de 1997, visando a um concurso para professor da UFBA, onde fiquei por 8 meses.

Em 1996, em Natal, aconteceu o 1º Encontro Regional de Catálise, brilhantemente organizado pelo amigo Prof. Antonio Araujo, da UFRN. Outros onze encontros aconteceram desde então, a cada dois anos, organizados por professores guerreiros, levando a motivação da catálise ao Nordeste, Norte e Centro Oeste do País. O próximo Evento será em Teresina, de forma virtual ou presencial, como o Covid determinar. Pude colaborar com esses Encontros, através da Rede de Catálise do Norte-Nordeste (RECAT) e do Instituto Brasileiro de Tecnologia e Regulação (IBTR). A RECAT marcou uma época! O apoio da FINEP, tendo em destaque o Rogério Medeiros e o Sérgio Alves, bem como a participação da Petrobras, nas pessoas de Oscar Chamberlain, Lam Lao e Rodolfo Roncolatto, permitiram que os pesquisadores em catálise dessas regiões se unissem trocando experiência e compartilhando infraestrutura.

O Congresso Brasileiro de Catálise foi hospedado várias vezes no Nordeste: em 1999, em Salvador, organizado pela Professora Soraia Brandão; em 2007, organizamos o evento em Porto de Galinhas, Pernambuco, em coorganização com a querida Profa. Celmy Barbosa e tendo Prof. Antonio Araujo na Comissão Científica; em 2015, levamos novamente para a Bahia, em Arraial d’Ajuda, Porto Seguro, onde fiquei responsável pela organização e a eficiente professora Maria do Carmo comandou a Comissão Científica.

Em meu caminho profissional, aceitei um convite do Prof. Manoel Barros, uma das pessoas mais marcantes em minha vida, para criar cursos de engenharia e consolidar a pós graduação, na Universidade Salvador (Unifacs), que despontou por suas características de inovação e investimentos na pós-graduação e na pesquisa. Com uma excelente equipe, em 20 anos, conseguimos trazer para a Unifacs nomes importantes das áreas de catálise, polímeros e adsorção, como os professores Roger Frety, Humberto Polli, Leila Aguilera, Antonio Osimar, Eledir Sobrinho, Luciene Carvalho e Elba Gomes entre outros. Em 2007, a convite da professora Silvana Mattedi, criamos um Doutorado em Engenharia Química, em associação ampla UFBA/Unifacs. A parceria continua desde então e muitos professores têm levado o curso a um alto patamar científico. Voltei à UFBA, como professor em tempo parcial, em 2011. Em julho de 2017, me fixei, definitivamente, na UFBA, como professor em dedicação exclusiva. Em 2018, recebi, com muito orgulho, o título de Professor Emérito da Unifacs e, em 2019, recebi da Presidente da SBCat, a incrível professora Sibele Pergher, o título de Sócio Honorário da SBCat. Emoção pura!

Sim, lá se foram 44 anos. Parece que foi ontem. Como é bom ser professor! A convivência com os jovens é muito rica. A pesquisa permite essa interação e me rejuvenesce.

13 07 SBCAT Frety NotíciaMeus primeiros contatos com a Catálise datam de outubro de 1964, quando entrei no “Institut de Recherches sur la Catalyse”, laboratório do CNRS “Centre National de Recherche Scientifique” da França. Entrei para fazer um “mestrado” sobre “o estudo cinetico da redução do óxido de níquel pelo hidrogênio”. A minha tarefa era adaptar uma termobalança ao estudo desta reação gás-sólido, em presença de uma circulação de gás, a pressões entre alguns milibars e um bar. Além dos efeitos da temperatura e da pressão de hidrogênio na cinética, consegui acompanhar as evoluções texturais do NiO durante a redução medindo, após obtenção de graus controlados de redução, a área total (NiO+Ni), a área seletiva do Ni, e a área residual do NiO após dissolução seletiva do metal. As curvas de redução, em condições isotérmicas, tinham uma forma sigmoidal, resultando de 3 etapas, um período de indução, um período de aceleração da velocidade e um período de decréscimo desta até o final da reação. O período de indução era a etapa lenta do processo e vários métodos promovendo esta etapa foram estudados: adição de traços de outros elementos na superfície dos grãos de NiO, metais preciosos e cobre tendo um efeito positivo, pré-redução com gases de maior tamanho molecular (NH3, hidrocarbonetos, CO...) favorecendo também a cinética. Estas modificações foram depois aplicadas a outros óxidos.

Este período determinou meu interesse permanente para a reatividade dos sólidos, e me permitiu domínio de técnicas de adsorção física e química, de microscopia eletrônica, de técnicas magnéticas, entre outras. Estudei depois catalisadores mono e bimetálicos a base de platina, irídio, rênio, e a base de níquel e, durante estes anos, participei de medidas de tamanho de nanopartículas metálicas, via quimissorção (H2, O2, CO), titulações H2-O2 e H2-C2H4, troca H2-D2 e microscopia eletrônica. Usei estes catalisadores em reações modelo tais como hidrogenação do benzeno, desidrogenação do ciclohexano, hidrogenólise do butano, desidrociclização do n-heptano. Participei também de estudos sobre catalisadores de hidrotratamento baseados em sulfetos de Mo (ou W) mássicos e suportados em vários suportes, inclusive C ativado, aplicando a estes catalisadores algumas caracterizações desenvolvidas com catalisadores metálicos. Finalmente apliquei uma parte dos meus conhecimentos ao estudo de catalisadores automotivos, antes e depois de uso.

No Brasil, os meus estudos começaram em 1977 no Instituto Militar de Engenharia, no qual, com o Prof. Yiu Lau Lam, foram iniciados trabalhos sobre o craqueamento catalítico de óleos vegetais e derivados para obter produtos totalmente desoxigenados, compatíveis com os combustíveis oriundos do petróleo e chamados hoje de “green fuels”. Participei em 1986 de vários estudos com o grupo do Prof. Martin Schmal, na COPPE/UFRJ, onde fiquei mais de dois anos. Fui associado a reflexões e ações do IBP e do Polo Petroquímico de Camaçari para o desenvolvimento da catálise no Brasil, e animei a parte francesa do PROCAT, programa de apoio a catálise brasileira. Entre 1994 e 2008, me afastei da catálise para atuar na área da diplomacia científica e do acompanhamento de projetos de cooperação internacional. Em 2009, com apoio do Prof. Luís Pontes (UFBA) regressei ao Brasil, em Salvador/Bahia. Retomei estudos do craqueamento térmico e termocatalítico de óleos vegetais e derivados (ácidos graxos, ésteres) provenientes de biomassa lignocelulósica e mais recentemente de microalgas. Estes novos estudos usaram principalmente técnicas de pirólise rápida (existentes na UFPE - José Geraldo Pacheco e na UFBA - Emerson A. Sales, onde obtevi vagas de professor visitante) e uma metodologia original na qual os compostos graxos eram pré-adsorvidos na superfície de catalisadores antes da pirólise, permitindo obter uma boa ideia das etapas primarias da desoxigenação. Participei também de estudos de valorização catalítica do metano, usando perovskitas como precursores de fases ativas.

03 08 SBCAT 2020 Publicacao 2 Notícia1: Instituição: IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo

1.1 – Coordenação de uma Planta Piloto

Em 1978, o Eng. Kenji Takemoto já Pesquisador do IPT, foi convidado para gerenciar o projeto de uma planta piloto para desidratação do etanol para produção de etileno com o uso do catalisador de alumina ( Al2O3 ) da empresa japonesa JGC. O IPT ofereceu uma área coberta de 150m2 e os equipamentos de análises, reagentes, utilidades, materiais de laboratório. A JGC construiu a planta piloto e alocou o Eng. Quim. Tsunekichi Yamabe. A planta piloto iniciou a operação em julho de 1978 com 7 colaboradores do IPT, e rodou continuamente por aprox. 3 meses, para obtenção de dados básicos para o projeto de uma planta industrial, bem como acompanhar a desativação do catalisador. Vide Foto 1 a planta piloto.

 

Foto 1: Laboratório de Catálise: Planta piloto de avaliação de catalisadores em leito fixo

79.1.Lab.Cat.5.1.Planta Piloto de Aval.Catal

1.2 – Implantação do Laboratório de Catálise e atividades

No começo de 1979, a FINEP aprovou um projeto do Prof. Remolo Ciola “ Catálise & Alcoolquímica “ porém o Prof. Ciola pediu demissão como Consultor do IPT. Desta forma, fui convidado para a implantação. O projeto foi suportado por 2 pesquisadores da JGC através da JICA, Eng. Quim. Tsunekichi Yamabe e Quim. Masamitsu Niizuma.

O projeto FINEP foi radicalmente alterado para estabelecer no IPT um laboratório de catálise Industrial, isto é, um laboratório para dar suporte as indústrias químicas e petroquímicas na área de análise e caracterização de catalisadores, bem como no desenvolvimento e teste de catalisadores em micro reatores.

O IPT ofereceu uma área construída de 450 m2 e colocada nesta área: Escritório, Sala de caracterização e outras salas conforme as fotos abaixo.

Os trabalhos técnicos iniciaram com 11 colaboradores, os 2 pesquisadores da JGC e com a consultoria do Prof. Dr Martin Schmal da UFRJ.

Foram preparados diversos catalisadores em escala de laboratório: Al2O3, ZnO ( Óxido de Zinco ) como adsorvente de H2S ( Sulfeto de H2 ), Fe-Cr, Co-Mo, e outros.

Obs.: Face ao ótimo desempenho do adsorvente ZnO preparado em escala de laboratório ( 50 gramas ) na remoção do H2S em um micro reator contínuo, a seguir foram produzidos 4 lotes ( 1 kg cada lote ) de ZnO em escala piloto, as amostras testadas novamente em um micro reator continuo com resultados similares ao ZnO comercial. O IPT assinou um acordo de transferência da tecnologia deste ZnO com a empresa Oxiteno, a Oxiteno iniciou a produção comercial deste adsorvente ZnO em torno de 1984 vendendo este ZnO para as refinarias de petróleo, indústrias petroquímicas e químicas, onde o IPT recebeu da Oxiteno os royalties sobre a venda. Vide Foto 6 – Óxido de Zinco – ZnO, adsorvente de H2S ( produção em escala piloto ). Nesta época foram assinados também acordo de cooperação com a Eletrocloro - Sto André/ SP, Nitrocarbono – Camaçari/BA, etc,

Foto 2: Sala de Preparação de Matérias Primas e Conformação de Catalisadores

79.1.Lab.Cat.2.sala.Prep.MP e Conformação Copia

Foto 3 – Sala de Preparação de Matérias Primas e conformação de Catalisadores

79.1.Lab.Cat.1.sala.Prep.MP e Conformação Copia

Foto 4: Sala de Produção de Catalisadores em Escala Piloto

79.1.Lab.Cat.3.sala.Prod.Catal. Piloto Copia

Foto 5 - Sala de Avaliação de Catalisadores em Micro Reatores

79.1.Lab.Cat.4.1.sala. Aval.Cat. em Micro reatores

Foto 6 – Oxido de Zinco – ZnO, adsorvente de H2S ( produção em escala piloto)

79.Lab.Cat.6.1.Foto.Prod. Piloto ZnO pó e ZnO extrudado

2: Eng. Quím. Kenji Takemoto, a minha carreira na área da Catálise

Na Coordenação do Laboratório de Catálise do IPT desde 1979, participava das reuniões da Sub Comissão de Catálise e depois na Comissão de Catálise - IBP, bem como nas discussões técnicas e administrativas dos projetos em desenvolvimento. Fui aperfeiçoando o meu conhecimento como bolsista da JICA em 1982 por 1 mês no Centro de Catálise da JGC – Japão, e depois em 1983 por 1 ano no National Chemical Laboratory for Industries na cidade de Tsukuba – Japão.

Em 1987 fui convidado para trabalhar na Degussa ( atual empresa Evonik ) como Gerente de Tecnologia de Aplicação no Departamento de Catalisadores e inicialmente fiz um treinamento de 6 meses na Degussa Alemanha na área de catalisadores automotivos e químicos.

Atuava tecnicamente nas duas áreas. O Proconve ( Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores ) fase L-1 ( L = veículos leves ) de 1986 estava em vigor e a partir de 1992 a fase L-2 com a necessidade do catalisador de oxidação. Visitava as montadoras da época, obtendo informações sobre os novos motores e dados de emissões veiculares, transferia estas informações para a Alemanha e recebia da Alemanha amostras de catalisadores automotivos para testes nestas montadoras. Baseado nos testes, em 1990 a Volkswagen qualificou o catalisador automotivo da Degussa e depois viabilizou a assinatura de um contrato de fornecimento. Em 1991 a Degussa constituiu a empresa Newtechnos em Americana – SP. Vide Foto 7 – Amostras de suporte e catalisador automotivo. Com a nova empresa ( atualmente pertencente a Umicore ) dedicada para catalisadores automotivos, fui designado para focar o desenvolvimento do mercado de catalisadores químicos.

Foto 7 – Amostras do Suporte cerâmico e do catalisador automotivo

78.c3.1.Suporte e Catal. autom.Foto

A área de Catalisadores Químicos com estrutura “ Vendas & Produção & Tecnologia de Aplicação “ atuando homogeneamente e tendo um portfólio de catalisadores específicos a base de metais preciosos, as vendas cresceram baseada na tecnologia de aplicação do catalisador pela especificidade da reação catalítica do cliente. Esta atuação técnico-comercial atingiu o mercado externo e aumentou expressivamente o volume de vendas. É importante destacar a atuação global da empresa e o suporte advindo desta cooperação, agregando conhecimento e experiência profissional.

Por outro lado, a participação em eventos e Comissão de Catálise/SBCat, bem como o patrocínio dos CBCats e o fornecimento de amostras para as Universidades e indústrias fortaleceram mais o nome da empresa na sociedade catalítica. Esta sinergia da Evonik perante estas instituições contribuíram para o aperfeiçoamento científico e o interrelacionamento pessoal. Para apoiar a catálise no Brasil, desde o 12º CBCat em 2003 a Evonik patrocina o Prêmio “ Melhor Tese de Doutorado em Catálise “. Em 2005, no 13º CBCat fui agraciado com o Prêmio “ Catálise e Sociedade “. Em 2007, no 14º CBCat fui agraciado com o título de “ Sócio Honorário “. Em 2011, assumi por 2 anos a Presidência do Conselho Superior da SBCat.

Em 2011, já como Consultor, depois de vários contatos com empresas, através da Umicore viabilizei a vinda do Prof. Akira Suzuki, ganhador do Prêmio Nobel de Química em 2010 para ser um dos palestrantes do 14º BMOS que foi realizado de 1 a 5 de setembro em Brasília. O Prof. Suzuki estava no programa, porém a Coordenação estava com poucos patrocinadores. Além do admirável sucesso do Prof. Suzuki no 14º BMOS, depois veio especialmente a São Paulo para dar uma palestra para a comunidade Nipo-Brasileira, bem como para a comunidade científica no CRQ-SP com a palestra “ Suzuki Coupling Reactions and its Applications in Chemical Industries “.

Sou muito grato aos colegas das universidades, aos alunos, as indústrias, aos colaboradores da Degussa/Evonik e a SBCat pelo meu desenvolvimento profissional, e pela amizade e companheirismo construídos durante a minha vida pessoal e social.

20 07 SBCAT noticia DilsonO período de formação

Nasci em 1944 em Santos, linda cidade no litoral de São Paulo, descendendo de portugueses e espanhóis. Por um motivo que não consigo explicar, mas que moldou minha vida, desde a infância me deslumbrava com as cores. Como era possível existir tantas cores lindas? Como elas eram formadas?  Ingenuamente, achava que poderia descobrir isso extraindo-as das flores. Com água, sabão ou álcool. E foi assim que me envolvi com a química. Ao concluir o ensino médio, tínhamos bastante claro que queríamos estudar química aplicada. Com esse objetivo, em 1965 ingressei no curso de Engenharia Química da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Nessa época, e nos anos seguintes, o Brasil foi governado por Generais, motivo pelo qual, em 1970, decidi dar continuidade aos estudos no exterior. Depois de uma temporada no Chile, fui para a Alemanha e, em 1979 concluí o doutorado em eletroquímica orgânica, na Universidade Martin Luther, na cidade de Halle.

Da eletroquímica à catálise

Em Janeiro de 1980 regressamos ao Brasil, agora com esposa e dois filhos. Com muita sorte, em poucos dias fomos contratados como docente no Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal de São Carlos (DEQ-UFSCar), para dar aulas de cinética e reatores químicos. Nesse ano iniciou-se um rápido aumento no preço do petróleo, matéria prima que o Brasil importava para atender a 100% das necessidades do país. Em busca de alternativas, criou-se incentivos para o desenvolvimento de processos que permitissem o uso do etanol como matéria prima, do qual já éramos grandes produtores. Isso despertou-nos o interesse em estudar a eletroquímica do etanol, tema novo que, no entanto, se revelou de difícil realização por falta de infraestrutura e de colaboradores interessados. O DEQ da UFSCar tinha na época cerca de 15 docentes e possuía uma excelente infraestrutura didática. O desafio daquele momento era aglutinar os docentes em grupos de pesquisa. Fomos então convidados para participar de um grupo de professores, liderado pelo Gilberto Della Nina, que se dispunha a estudar temas sobre catálise aplicada à alcoolquímica. Ficamos contentes com o convite, pois iriamos trabalhar em uma equipe (e não mais sozinhos) em tema que envolveria a aplicação do etanol. Respondemos então ao colega, algo que ficou bem marcante: “mas eu não tenho nenhuma experiencia em catálise”. E, de imediato, recebemos como resposta: “nós também não”. Foi assim que, lentamente, fomos nos envolvendo com a catálise, através da leitura, em grupo, de um dos poucos livros que dispúnhamos sobre o tema.

A formação de pessoal

O grupo de catálise se consolidou quando o Prof. Gilberto obteve um projeto no CNPq, com o objetivo de financiar estudos sobre a desidratação do etanol com aluminas catalíticas, para a formação do eteno e éter dietílico. Com os recursos desse projeto foi adquirido um equipamento para medir a área específica de sólidos e instalado o primeiro cromatógrafo a gás no laboratório do grupo. Animado com o novo tema de pesquisa, em 1981 orientamos o primeiro aluno de iniciação científica, no estudo da obtenção de hidróxido de alumínio, visando a produção de aluminas para a desidratação do etanol. Em 1983 nos credenciamos no Programa de Pós-graduação em Engenharia Química da UFSCar, orientamos o primeiro aluno sobre a preparação e emprego do óxido de magnésio na desidrogenação de etanol a acetaldeído e passamos a oferecer a disciplina “Introdução à Catálise Heterogênea”. Finalmente, em 1985, já mais seguros com a catálise, mudamos o rumo dos nossos estudos para a síntese e a aplicação catalítica de zeólitas e peneiras moleculares. Como não tínhamos experiencia com esse material, fizemos um estágio no laboratório do Prof. Jean Michel Guisnet, na Universidade de Poitiers, na França. Lá aprendemos muito sobre zeólitas com o pesquisador ítalo-venezuelano Giuseppe Giannetto. Desde então, continuamos estudando a síntese desses materiais micro e mesoporosos, com o objetivo de desenvolver neles propriedades ácidas, básicas ou bifuncionais, necessárias para terem atividade catalítica. Aplicamos essas peneiras em diversas reações (alquilação de aromáticos, isomerização de alcanos, esterificação e transesterificação) para a formação de vários produtos: para-xileno, para-dietilbenzeno, biodiesel, alcanos ramificados e ésteres alquídicos. Fruto desses trabalhos, formamos cerca de 80 pós-graduandos, mestres e doutores, os quais desempenham hoje atividades como pesquisadores em indústrias químicas ou como docentes em cerca de 20 universidades. A realização dessas atividades só foi possível graças ao apoio financeiro das agências de fomento à pesquisa (FINEP, FAPESP, CNPq) e à interação com indústrias, em especial com a Petrobras e outras empresas químicas (Oxiteno, COPENE, EDN). Os resultados desses trabalhos foram divulgados em cerca de 100 publicações em revistas indexadas, 200 apresentações em congressos científicos, e resultando na distinção em prêmios científicos.

Interação com a comunidade catalítica

Outro enorme prazer que tivemos em nos envolver com a catálise, foi que ela permitiu que desenvolvêssemos uma intensa interação com a jovem comunidade catalítica brasileira e com a comunidade ibero-americana. Nosso primeiro contato externo ocorreu em 1981, ao participarmos do “1º. Seminário de Catálise”, realizado no Instituto Militar de Engenharia (RJ), representando o grupo de catálise do DEQ da UFSCar. Na época, nosso envolvimento com a catálise era muito recente ano e ainda não tínhamos resultados para apresentar no evento. Estávamos lá como observador, para confirmar se tínhamos feito a escolha certa e conhecer os trabalhos de famosos catalíticos atuantes no Brasil, como Martin Schmal, Leonardo Nogueira, Roger Frety e Yiu Lau Lam, entre outros. Essa interação se intensificou ao participarmos das reuniões da “Comissão de Catálise” do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), empresa do Rio de janeiro responsável pela organização dos nossos eventos. A interação ampliou-se com a participação no recém criado “Grupo Regional de Catálise” do Estado de São Paulo. E teve seu auge em 1997, com a criação da “Sociedade Brasileira de Catálise”, concretizada no “9º. Congresso Brasileiro de Catálise”, realizado em Águas de Lindoia (SP). E tivemos imenso prazer em participar, junto com o Martin Schmal, da primeira Diretoria da nossa Sociedade. Em paralelo tivemos a oportunidade de interagir com colegas ibero-americanos, através do programa de catálise do CYTED (Ciencia y Tecnología para o Desarrollo), mantido pela Espanha. Como consequência, colaboramos na criação da FISOCat (Federação Ibero-americana de Sociedades de Catálise), de cuja primeira Diretoria participamos juntamente com o colega Carlos Apesteguia, da Argentina. Finalmente não podemos deixar de registrar que, através da participação na SBCat, estabelecemos uma forte amizade com os colegas Victor Teixeira da Silva (UFRJ) e Roberto Fernando de Souza (UFRGS), prematuramente falecidos.

Conclusões

A escolha da catálise como área de atuação profissional nos deu muitos prazeres: do ponto de vista científico, pelo enorme aprendizado que obtivemos, ao nos aprofundar  no seu estudo; do ponto de vista tecnológico, pela contribuição que ela nos permitiu dar, ao participarmos na resolução de algumas questões industriais; do ponto de vista pessoal, porque permitiu que contribuíssemos na formação de diversos jovens e que ampliássemos a interação com os colegas da comunidade científica brasileira e ibero-americana. Após 40 anos, continuamos nos dedicando a ela, no Departamento de Engenharia Química da UFSCar, na qualidade de Professor Sênior.

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