27 11 SBCAT AntoniAraujo NotíciaA Catálise no Brasil praticamente iniciou nos anos 80, com a criação do Programa Nacional de Catálise (PRONAC), associando grupos e laboratórios para o desenvolvimento de pesquisas, visando a formação de núcleos para apoiar as indústrias nacionais. Esse plano foi elaborado em 1983 com alguns grupos em Universidades no país, recebendo apoio financeiro do CNPq e FINEP. Foi exatamente neste ano que iniciei o curso de Química Bacharelado, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Posso dizer que eu estava no lugar certo, no momento certo.

Minha trajetória na área de catálise iniciou em março/1983, quando fui convidado a participar da equipe do Laboratório de Catálise Heterogênea da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como aluno de Iniciação Científica voluntário, para desenvolvimento de um projeto inserido dentro do PRONAC, sob a coordenação do Prof. Shantappa Jewur. O projeto estava relacionado ao desenvolvimento de óxidos metálicos simples e mistos, além de argilominerais e zeólitas naturais e sintéticas. Ainda em 1983, participei do 2o Seminário Brasileiro de Catálise (São Paulo) e fiquei bastante impressionado com a área de catálise, e tive pela primeira vez contato com renomados pesquisadores nacionais e internacionais. Nesse momento, conheci alguns pesquisadores que iniciaram a catálise no Brasil, como Martin Schmal, Yiu Lau Lam, Ruth Leibson Martins, Ulf Schuchardt e Remolo Ciola. Em 1984, já tinha vários resultados sobre a síntese de zeólitas X e Y, e A, além de modificação de zeólitas naturais stilbita e chabazita. Foi então em 1985, que participei no 3o Seminário Brasileiro de Catálise (Salvador), agora com apresentação do meu primeiro trabalho de IC intitulado: “Síntese, Caracterização e Testes Catalíticos das Zeólitas A, X e Y” (Anais do IBP, 1985, pp. 297-311). Como este evento ocorreu em Salvador, aproveitei para conhecer algumas indústrias do Polo Petroquímico de Camaçari, bem como do Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (COFIC).

No período de 1986-88, realizei o mestrado em Química, na Universidade Federal da Paraíba, com Bolsa da COPENE (atual BRASKEM), para desenvolvimento de projeto sobre alquilação de tolueno com metanol e isomerização de m-xileno para obtenção de p-xileno, utilizando zeólita NbZSM-5. Ao final do mestrado fui contratado como químico pesquisador no Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (CEPED), em Camaçari (BA), onde permaneci por dois anos. Durante este período, fiz diversos contatos com pesquisadores, destacando os Professores Luiz Pontes (UFBA), Heloysa Andrade (UFBA), Reger Frety (CNRS), Eduardo Falabella (UFRJ) e Yiu Lau Lam (Cenpes). Como funcionário do CEPED, participei de vários projetos de pesquisa do PROQUIM – Programa Petroquímico, financiado pelo COFIC, principalmente projetos da COPENE, sobre caracterização de zeólitas sintéticas; da ACRINOR – Acrilonitrila do Nordeste, sobre catalisadores metálicos baseados em óxidos de molibdênio, bismuto e ferro, para o processo de amoxidação de propeno; CIQUINE – Companhia Química do Nordeste, sobre caracterização de catalisadores de oxidação baseados em óxidos de zinco e titânio, e DETEN – Detergentes do Nordeste, sobre catalisadores ácidos e superácidos, para a obtenção da matéria prima para preparação de detergentes, conhecida como LAB (linear-alquil-benzeno). Este processo usava ácidos líquidos, principalmente o fluorídrico, que é muito volátil e corrosivo, sendo um ácido de difícil manuseio. Como eu tinha conhecimento em catalisadores ácidos heterogêneos, sugeri aos pesquisadores da empresa DETEN que fosse verificada a possibilidade da aplicação de zeólitas ácidas e superácidas para este processo. Uma pesquisa na literatura mostrou que a superacidez de zeólitas poderia ser conseguida pela incorporação de terras raras nas cavidades do material. Assim, resolvi realizar o doutorado com esta temática.

No início dos anos 90, fui aprovado em concurso público para Professor na UFRN, e também já estava iniciando o meu doutorado em Química Inorgânica no Instituto de Química da USP, sob orientação da Profa. Lea Zinner. Defendi minha tese de doutorado ao final de 1992 sobre a “Influência de terras raras nas propriedades e atividade catalítica da zeólita Y”, com participação dos professores Martin Schmal, Dilson Cardoso, Remolo Ciola e Eduardo Falabella, na minha banca examinadora. Os catalisadores obtidos foram caracterizados por vários métodos físico-químicos, e finalmente testados como catalisadores ácidos no processo de alquilação de benzeno com 1-dodeceno, para formação de LAB (Linear-Alquil-Benzeno). Os materiais apresentaram boa atividade catalítica, com seletividade ao LAB 2-fenil-dodecano, que é o produto mais desejado no processo. Este processo foi patenteado e atualmente, o LAB em Camaçari é produzido por processo heterogêneo utilizando zeólitas ácidas. Ao retornar à UFRN, em 1992, iniciei pesquisas sobre síntese, caracterização e propriedades catalíticas de zeólitas, aluminofosfatos (ALPO’s), silicoaluminofosfatos (SAPO’s) e derivados, quando aprovei meus primeiros projetos com o CNPq, além de iniciar cooperação com a Fábrica Carioca de Catalisadores (FCC) e Cenpes/Petrobras. Mantive colaboração efetiva com o pesquisador Yiu Lau Lam (Cenpes) e com o Prof. Dilson Cardoso (UFSCar), o qual recebeu vários alunos para caracterização e testes catalíticos de vários materiais desenvolvidos em nosso laboratório.

Durante minha carreira acadêmica, tive participação em diversos congressos na área de catálise, zeólitas, análise térmica e adsorção, seja como participante, palestrante ou em comissão organizadora/científica.  Ressalto que ao longo dos anos, tenho participado de quase todos os Congressos Brasileiros de Catálise, e em 1995, com a criação das sub-diretorias e das Regionais em Catálise, fui indicado como Sub-diretor da SBCAT, juntamente com os colegas: Alexandre Chernichenco, Pedro Arroyo, Luiz Pontes, Claudio Mota, Roberto Fernando de Souza, Vitor Teixeira e Lucia Appel. Assim, como membro e representante de universidades da SBCat, fui eleito o primeiro Supervisor da Regional-1 da SBCat, e em 1996 organizamos o 1o Encontro de Catálise do Norte-Nordeste (ENCAT) em Natal(RN), com mais de 100 participantes, o que nos deixou bastante entusiasmados com a importância da catálise na região. Atualmente os ENCAT’s ocorrem a cada dois anos, em algum estado do Norte, Nordeste ou Centro-Oeste, sendo o evento oficial da RECAT. Nestes eventos, diversos colegas catalíticos integram as comissões, como Sibele Pergher (UFRN), Dulce Melo (UFRN), Eledir Sobrinho (UFRN), Célio Cavalcante (UFC), Maria Wilma Carvalho (UFCG), Meyre Gláucia (UFCG), Celmy Barbosa (UFPE), José Geraldo (UFPE), Joana Barros (UFCG), Luiz Pontes (UFBA), Soraya Brandão (UFBA), Marcelo Souza (UFS), Anne Michelle Souza (UFS), Antonio Osimar Silva (UFAL), Maritza Urbina (UFAL), José Dias (UnB), Silvia Dias (UnB), Geraldo Narciso (UFPA), Geraldo Luz (UESPI), Anne Gabriella (UERN), Vinícius Caldeiras (UERN), dentre outros colegas. O último evento foi o 12o ENCAT, e ocorreu em Belém (PA) sob a presidência do Prof. Geraldo Narciso. Todos os eventos foram carinhosamente preparados, e tiveram como objetivo principal aumentar a interação entre os grupos de catálise na Regional e incrementar as parcerias. Destaco aqui o apoio incondicional da SBCat, CNPq, FINEP, Rede de Catálise (RECAT), indústrias da região e representantes de instrumentos científicos, que sempre garantiram o sucesso dos ENCAT’s.

Foi participando em alguns congressos internacionais, seja na área de catálise, zeólitas, nanomateriais, análise térmica ou adsorção, que conheci pesquisadores renomados, como Harry Robson, Abdel Sayari, Mietek Jaroniec, David Olson, David Serrano, Enrique Castellon, Continuei fazendo contato com esses pesquisadores e no período de 1998-1999, realizei pós-doutorado sobre materiais nanoporosos, especialmente LaMCM-41 e CeMCM-41, em Kent State University (Ohio – EUA), supervisionado pelo Prof. Jaroniec. Naquele período, participei de diversos workshops e simpósios sobre catálise aplicada ao beneficiamento de petróleo e resíduos de petróleo, em eventos apoiados pela American Chemical Society (ACS). Desde então, tenho atuado como integrante da American National Research Concil, para avaliação de projetos financiados pelo Petroleum Research Fund, administrado pela ACS.

Ao retornar dos Estados Unidos, estava sendo criado no Brasil os fundos setoriais e as agências reguladoras, e através da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), com o apoio da FINEP, aprovamos projetos na RECAT nos anos 2000, ocorrendo assim a consolidação de diversas parcerias e grupos de pesquisa em catálise na Regional-1. Tenho atuado nos cursos de graduação em química licenciatura, bacharelado, química do petróleo, e nos programas de pós-graduação em química, pós-graduação em ciência e engenharia de materiais, e pós-graduação em ciência e engenharia de petróleo. Muitos dos meus alunos defenderam suas dissertações ou teses, e ingressaram na academia ou centros de pesquisa. Alguns atuam em instituição no exterior. Em 2000, fomos convidados pela ANP para participar do programa nacional sobre o monitoramento da qualidade dos combustíveis. Então, já estamos inseridos neste programa por vinte anos, e também iniciamos pesquisa sobre catálise aplicada ao beneficiamento de petróleo pesado, resíduos atmosférico, resíduo de vácuo, gasóleo de vácuo. Neste caso desenvolvemos vários materiais meso e macroporosos para estas aplicações. Desenvolvemos também novos projetos sobre pirólise e degradação termo-catalítica de resíduos de plásticos, para obtenção de hidrocarbonetos conbustíveis na faixa de GLP, gasolina e diesel. Temos trabalhos de cooperação na área de biocombustíveis.

O início da minha trajetória catalítica praticamente coincidiu com o início dos seminários/congressos em catálise no Brasil, o que permitiu acompanhar toda a sua evolução e desenvolvimento desde 1983. Naquele tempo, a catálise se concentrava basicamente em RJ e SP. Com a criação das quatro regionais da SBCat, especificamente a Regional-1, houve uma maior divulgação e ampliação das atividades de pesquisa em catálise nas regiões N, NE e CO. Durante minha passagem pelo Polo Petroquímico de Camaçari, fui contemplado com várias frentes de pesquisa, além de amizades que cultivo até hoje. No período acadêmico, desde quando ingressei como professor na UFRN, ao longo de 30 anos (1990-2020), orientei vários alunos de graduação, mestrado e doutorado, os quais muitos deles estão inseridos no mercado de trabalho, o que me deixa bastante honrado, com o sentimento do dever cumprido. Ainda continuo atuando como pesquisador (Bolsista de Produtividade do CNPq, desde 1993), e espero contribuir por muitos anos para o progresso da catálise no Brasil.

23 11 SBCAT FabioPassos NotíciaIniciei o curso de Engenharia Química na Escola de Química da UFRJ, em 1983. A trajetória do curso marcou na minha formação a importância do correto uso dos conhecimentos da Química tanto na área industrial, atividade essencial da Engenharia Química, quanto o seu impacto nas diversas atividades da sociedade. No curso  de Cinética Homogênea e Cálculo de Reatores, as aulas dos professores Martin Schmal e José Luiz Monteiro despertaram o meu interesse pela Catálise. Durante suas aulas, o Prof. Martin Schmal nos chamava a atenção para a relevância do conhecimento deste assunto nas atividades industriais, fato que confirmei durante estágio na Petrobrás Química S.A. Decidi então cursar a disciplina optativa Catálise Heterogênea, com o próprio Prof. Martin Schmal e o Prof. Eduardo Fallabela Souza-Aguiar, entusiastas do crescimento da Catálise Heterogênea no Brasil e da necessidade de formação de pessoal especializado na época.

Ao final do curso de Engenharia Química, fui aprovado em dois concursos públicos. Um para a Marinha do Brasil, e outro para o curso de formação de pesquisadores na área petroquímica (CEPESQ), de diversas empresas ligadas à Petrobrás Química S.A. Mas preferi iniciar o curso de mestrado na COPPE/UFRJ em 1988 e fui realizar a minha tese (como ainda se chamava) de mestrado sob orientação dos professores Martin Schmal e Roger Frety. A pesquisa era de interesse da DETEN Química S.A., até hoje principal fabricante de LAB no Brasil, tendo sido uma rica experiência sobre as vantagens e as dificuldades da colaboração universidade-empresa.

Destes tempos, aprendi a valorizar a qualidade das publicações científicas e o esforço para gerar resultados de nível internacional. Reconheço o incentivo do Prof. Schmal, a liberdade acadêmica que ele propiciava aos alunos no laboratório, deixando que fossem criativos e desenvolvessem a independência e iniciativa tão necessárias para um pesquisador. Em 1989, graças a um incentivo da Prof. Rosenir Rita de Cássia Moreira da Silva, aluna de doutorado, mas já professora do Departamento de Engenharia Química da UFF e, me inscrevi e fui aprovado num concurso para Professor Auxiliar para a área de Fenômenos de Transporte, Cinética e Termodinâmica na UFF. Tomei posse em 31 de dezembro de 1989, iniciando a minha carreira docente.

Para me desenvolver na carreira acadêmica estava claro que deveria continuar os meus estudos de pós-graduação e iniciar o doutorado na COPPE. Na fase inicial do doutorado se iniciou a colaboração com o Prof. Donato Aranda que iniciava a parte experimental do seu mestrado, e com o Prof. Henrique Saitovitch do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). Em 1993, fui realizar doutorado sanduíche com o Prof. Albert Vannice da Pennsylvania State University, ótima experiência profissional e pessoal, consolidando a influência da escola de Michel Boudart em minha visão sobre a Catálise Heterogênea. De volta ao Brasil, após a defesa de doutorado, me dediquei a estabelecer o Laboratório de Reatores, Cinética e Catálise (RECAT) na UFF, Desde então, já orientei 49 dissertações de mestrado e 18 teses de doutorado, além de 14 estágios de pós-doutorado e dezenas de alunos de graduação, tendo recebido alunos de várias partes do Brasil e da Alemanha,  Colômbia, Peru, Portugal e Venezuela. Agradeço a todos os alunos, o aprendizado foi mútuo.

O sucesso do grupo se deveu à qualidade desses alunos, às diversas colaborações com grupos do Brasil e do exterior e ao apoio das instituições de fomento e de empresas como a PETROBRAS que financiam as pesquisas do grupo. Recebi, em 2000, o Young Investigator Award da IACS, Prêmio Pesquisador em Catálise  da SBCAT em 2005. Fui Presidente do 15o CBCAT em 2005.   Acredito ser importante contribuir para o desenvolvimento institucional da Universidade e exerci os cargos de Chefe de Departamento, Pró-Reitor de Extensão, Diretor da Escola de Engenharia e exerço atualmente o cargo de Vice-Reitor da UFF. Os desafios da Catálise no país continuam, em especial o de se realizar pesquisa de alto nível, competitiva internacionalmente e de relevância para o desenvolvimento do Brasil.

03 11 SBCAT 2020 quemsomos NotíciaEscrevermos sobre nós mesmos é uma tarefa ardilosa, pois ou caímos na armadilha da humildade excessiva ou na armadilha de fingirmos que alguém fala sobre nós. Enfim, tentarei não cair em nenhuma das duas. Minhas atividades na área de catálise começaram com o meu estágio no Instituto Nacional de Tecnologia, INT, no Rio de Janeiro, em 1988, sob orientação de Lúcia Appel e Caetano Moraes. Na ocasião, participar da montagem de unidades e preparo de catalisadores foi fundamental para adquirir o gosto pela área, me levando a participar de meu primeiro Seminário de Catálise do IBP no ano seguinte.

Uma vez formado em Engenharia Química na UFRJ, fui para o mestrado na UFSCar (em 1990),  por indicação do querido Caetano Moraes. O trabalho foi desenvolvido em parceria com a Fábrica Carioca de Catalisadores SA, que criou um grande projeto, em parceria com programas de pós-graduação, de formação de recursos humanos na área de catálise, particularmente no estudo de zeólitas. A indicação da UFSCar nessa parceria foi do querido professor Eduardo Falabella e minha dissertação teve a orientação do Professor Dilson Cardoso e do saudoso Jorge Gusmão da Silva, então pesquisador da FCC.

Ao retornar ao Rio de Janeiro, comecei meu doutorado na Coppe/UFRJ, sob orientação do Professor José Luiz Fontes Monteiro e do pesquisador do Cenpes Yiu Lau Lam, também vinculado a um projeto da FCC. Em 1995 tornei-me professor da Escola de Química da UFRJ e, devido a várias atividades assumidas, tranquei a matrícula no Programa de Engenharia Química (PEQ) da Coppe.  Ao retomar o meu doutoramento, agora não mais vinculado a projeto da FCC, tive a coorientação do meu querido e saudoso amigo professor Victor Teixeira.

Ao longo desses mais de 30 anos, participei de todos os Seminários/Congressos e dos Iberos organizados no Brasil, ocorridos desde então, além da organização de vários eventos da área, tendo uma grande atuação nas discussões para a transformação de Seminário em Congresso e depois na criação de nossa SBCat, sendo um dos primeiros associados (inscrição número 18).

Mesmo não sendo um pesquisador de destaque na área, acredito que sempre colaborei, e continuarei colaborando, para a consolidação da nossa Sociedade e para a formação de novos membros, sejam eles da área acadêmica ou do meio industrial.

lattes Lattes

06 11 SBCAT Noticia MariadoCarmoAo longo da minha trajetória profissional, como docente e pesquisadora na área de catálise, as oportunidades e as interações com diferentes profissionais foram decisivas na definição dos rumos que viria a seguir.  

Ao concluir o curso de engenharia química, optei pela vida acadêmica, ingressando como docente no Departamento de Físico-Química/UFBA e no mestrado em química inorgânica, durante o qual despertei o interesse pela pesquisa. Como orientadora, a prof. Adelaide Viveiros transmitia não apenas conhecimentos em química de coordenação, mas também exemplos de seriedade, competência e postura ética e profissional.

Após a conclusão do mestrado, participei do “Curso de Especialização em Cinética e Catálise”, patrocinado pelo Polo Petroquímico de Camaçari/Ba, durante o qual convivi com destacados pesquisadores, especialistas em catálise, de várias partes do mundo. Essa experiência me despertou a paixão pela pesquisa em catálise e o desejo de realizar o doutorado na UNICAMP, sob a orientação do prof. Fernando Galembeck. Nesse grupo, encontrei um ambiente acolhedor e extremamente favorável ao desenvolvimento de pesquisas científicas aplicadas, de alto nível, que me permitiram a aquisição de novos conhecimentos e a consolidação dos princípios da pesquisa científica ética e profissional.

Ao retornar à UFBA, busquei empregar essa experiência no curso de pós-graduação, ministrando aulas e orientando alunos. Esses planos foram concretizados graças ao apoio e incentivo dos profs. Jailson Bittencourt de Andrade (na época coordenador do Programa de Pós-graduação em Química) e Celso Spínola, que me inseriram no universo da política científica e acadêmica e dos mecanismos de captação e gerenciamento de recursos. Essa experiência foi essencial no exercício de atividades acadêmicas/administrativas, que iria exercer mais tarde, proporcionadas pelos diretores Dirceu Martins e Maria de Lourdes Trino. Na época, o estágio de pós-doutorado no INCAPE (Argentina), sob a supervisão dos profs. José Parera e Nora Fígoli, foi fundamental para a aquisição e  consolidação dos conhecimentos práticos de catálise. 

A interação com várias empresas, especialmente a FAFEN/Ba, CENPES/PETROBRAS e OXITENO/Mauá, permitiu a realização de vários trabalhos tecnológicos, resultando na obtenção de um catalisador industrial  para a geração e purificação de hidrogênio. Ao longo dos anos, foram realizados trabalhos com outras empresas, destacando-se a BRASKEM, com qual foram desenvolvidos catalisadores para processos petroquímicos e remediação ambiental. Nessas interações, a contribuição e o apoio recebidos por Roberto Carlos Bittencourt (PETROBRAS), Valéria Vicentini (OXITENO), Luis Pontes (COPENE) e Jaildes Britto (COPENE/BRASKEM) foram determinantes para o avanço da nossa infraestrutura laboratorial e da qualidade dos nossos trabalhos.

Foram, também, realizados trabalhos em cooperação com grupos nacionais e internacionais e outras atividades de extensão (cursos, palestras e workshops), bem como reuniões de redes de pesquisa sul-americanas, visando a complementar a formação dos alunos, pelo convívio com outros profissionais da área de catálise. Esses eventos e as   publicações científicas foram, também, mecanismos de estímulo aos alunos e jovens pesquisadores, especialmente da região Nordeste.

Dentre as realizações da minha trajetória científica, considero a formação profissional de alunos de graduação e pós-graduação como a mais gratificante. Muitos deles  ascenderam sócio e economicamente, melhorando suas vidas e de seus familiares, através dos conhecimentos adquiridos.

Atualmente, vivencio o início de uma nova fase, em que atuo como docente e pesquisadora no cargo de Professor Titular-Livre do Departamento de Química Inorgânica/UFRGS. Nesse momento, permanece o mesmo objetivo de contribuir para a formação de jovens estudantes e para o desenvolvimento científico e tecnológico do País.

Deixo registrado, aqui, os meus agradecimentos a todos que fizeram parte da minha trajetória profissional e que, direta ou indiretamente, participaram das minhas realizações.

26 10 SBCAT Noticia LeandroDepois de ler uma série de relatos de professores e pesquisadores que construíram a SBCat, fico lisonjeado em poder contar um pouco de minha trajetória. E como toda experiência é uma experiência pessoal, vou aqui contar brevemente a minha. A minha biografia começa no interior do Estado de São Paulo, na cidade de Itu, em setembro de 1980. Eu não pensava em ser professor, mas sempre fui fascinado pela ciência, e me lembro deslumbrado em tentar fazer experiências, misturando produtos que estavam disponíveis em casa, sem muito sucesso na empreitada. Sempre estudei em escola pública e felizmente, no ensino médio, fui para uma escola particular, quando tive contato com pesquisa nas aulas de laboratório de física, biologia e química. Conheci as vidrarias, pequenos equipamentos e microscópios. Era o momento em que sentia uma grande satisfação ao compreender algo novo. O caminho para minha carreira começou aí. Em 1997, os professores do colégio nos levaram para conhecer a UNICAMP em Campinas, e ao visitar o departamento de engenharia química, decidi que essa seria a minha profissão. Na época, quem nos apresentou o curso foi o então coordenador Prof. Antonio J. G. Cobo, que eu descobriria alguns anos depois, atuava na catálise. Atribuo a minha escolha, sem hesitação, aos meus professores de química, física e matemática.

Quando iniciei a graduação em 1998 na UFSCar, fui orientado pela Profa. Margarida de Moraes do departamento de Química e, em seguida, pelo Prof. Ernesto Urquieta-González, da Engenharia Química. Com esses dois professores tive o primeiro contato com a catálise. Passei praticamente todo o curso em atividade de iniciação científica e ao terminar pude atuar em um projeto em colaboração com a Oxiteno, coordenado pela Valeria Vicentini e o Prof. Dilson Cardoso, que viria a ser o meu orientador do doutorado. Foi um período muito empolgante, pois vivenciei, mesmo que por raro tempo, a pesquisa na indústria química. No doutorado, estive por pouco mais de um ano na RWTH na Alemanha, no grupo do Prof. Wolfgang F. Hölderich. Fui pelo programa do DAAD, que além de fomentar a mobilidade acadêmica, organiza encontros com seus estudantes. Lembro-me até hoje de assistir a uma palestra de um prêmio Nobel na cidade de Bonn e, na plateia, estudantes de diversos países financiados pelo DAAD. A palestra foi sobre catálise enzimática.

Em 2009 tornei-me professor em Araraquara no Instituto de Química da UNESP (IQ) e lá encontrei um ambiente bastante saudável cientificamente para desenvolver a minha pesquisa, que trata do estudo de sólidos porosos para a conversão catalítica de precursores renováveis. Além da pesquisa, atualmente também dou aulas de cálculo de reatores e operações unitárias. Não encontrei apenas bons laboratórios, mas também estudantes empolgados e que aceitaram em criar comigo o Grupo de Pesquisa em Catálise (www.gpcat.com.br). No IQ, não tínhamos um grupo de catálise heterogênea, e em 2010 aprovamos um projeto que permitiu a constituição de um grupo para pesquisa da forma que gostaríamos.

Com relação à SBCat, em 2010 organizamos o X Encontro Regional de Catálise em Araraquara e de 2013 a 2015 fui coordenador da Regional 3. Em 2009, o Prof. Dilson e eu tivemos o grande prazer de receber o prêmio Tese de Doutorado em Catálise. E, em outras duas edições do prêmio, dois estudantes do GPCat também foram premiados, o Luiz Gustavo Possato (2017) e o Luiz Henrique Vieira (2019), ambos na foto acima.

A catálise sempre foi uma linha de pesquisa ao mesmo tempo empolgante e desafiadora por envolver conceitos transversais. O desenvolvimento tecnológico atual a tornou cara e, infelizmente, coincide com o que é talvez um dos períodos mais desafortunados para a história da ciência mundial por causa dos diversos cortes. Amo ser professor e pesquisador e sinto-me no desafio de motivar os estudantes que estão vindo, em uma retribuição de tudo que meus professores fizeram por mim.

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