06 06 SBCAT Leon noticiaA minha relação com a pesquisa vem da infância. Carioca de nascimento e baiano de criação, fui aquela criança que, na época, se chamava de "nerd". Provavelmente por ter transtorno de espectro autista (diagnosticado aos 41 anos), tinha dificuldade de socialização e gostava muito de estudar e entender o porquê das coisas. Quando assistia desenhos, filmes e séries, via aqueles personagens rotulados de "cientistas malucos" (Prof. Pardal, Dr. Brown, Franjinha, etc.) e pensava "Quero ser isso quando crescer". Me identificava com a curiosidade, a paixão por "estudar e descobrir coisas" e até com a falta de habilidades sociais de alguns. Com o tempo, isso virou "uma memória da infância". No ensino médio, acabei prestando vestibular para engenharia química. Costumo dizer que "escolhi o curso certo pelos motivos errados". Não sabia bem o que um engenheiro químico fazia, mas escolhi porque "gostava de matemática, física e química".

Em 2000, mudei da Bahia para São Paulo para ingressar no curso de graduação em engenharia química da UFSCar. A primeira ironia na minha vida acadêmica foi que, na disciplina "Introdução à Engenharia Química", fui apresentado a diferentes áreas de atuação da carreira e, ao ver a explicação sobre uma área chamada "Catálise Heterogênea", pensei "Gente, isso é sem graça". Meus veteranos falavam "vocês não vão aprender química na engenharia química", então decidi tentar fazer IC no Departamento de Química para "aprender mais química". Conversei então com uma professora de lá sobre a possibilidade de ser IC dela. Aí veio a segunda ironia: a Profa. Clélia M. P. Marques trabalhava com o Prof. José Maria C. Bueno, do Departamento de Engenharia Química, e ambos trabalhavam com catálise heterogênea. Descobri que a catálise "tinha muita graça" e fui IC deles no LabCat de 2001 a 2003, trabalhando com caracterização de catalisadores por DRIFTS com adsorção de CO. Meu trabalho de graduação, orientado pelo Prof. Pedro A. P. Nascente, foi sobre caracterização de catalisadores por XPS.

Ao me formar, mudei para Minas Gerais e trabalhei 3 anos como engenheiro de processos. Com a saída da empresa, comecei a pensar em que rumo daria para a minha carreira. Em 2009, mudei para o Rio de Janeiro e comecei o mestrado na COPPE/UFRJ. Fiz o mestrado e o doutorado com o Prof. Victor Teixeira da Silva (in memoriam), do NUCAT. Com ele, aprendi muito sobre carbetos, fosfetos e reações de HDS e HDO. Ele me incentivou a "ganhar o mundo" fazendo doutorado sanduíche no IRCELYON (França). E foi com ele que aprendi muito sobre "amar trabalhar com catálise". Levei para a vida uma frase dele: "Leon, todos os professores daqui vão falar que a sua área é a melhor e eu também vou, mas tem uma diferença: eu estou certo e eles errados".

Defendi o doutorado em 2016, com a proposta de trabalhar com o Victor em um projeto dele em processo de renovação. A vida às vezes fecha portas e ele faleceu antes de a renovação acontecer. No entanto, a vida também abre janelas. Em 2018, o Dr. Marco A. Fraga me convidou para trabalhar em um projeto dele no INT. Captura de CO2 e adsorventes básicos eram novidades para mim, então foi um período de muito aprendizado e trabalho. O final do projeto e a pandemia de COVID-19 em 2020 deixaram um hiato na minha vida profissional. Em 2022, voltei para o INT como posdoc (PCI-DA) da Dra. Andréa M. D. de Farias, em uma linha de trabalho conjunta com o Dr. Marco A. Fraga. Eles me introduziram no mundo dos catalisadores nanoestruturados e das reações de valorização de biomassa. Além da pesquisa, embarquei com a Andréa no desafio de atuar em um grupo de divulgação científica.

Fazer ciência no Brasil é uma tarefa árdua, mas, mesmo com tantas dificuldades, fazemos isso com excelência. Pensando em retrospectiva, aquela criança que queria ser "cientista maluco" esteve sempre aqui e pesquisa e a catálise realizaram o desejo dela. Por isso, serei eternamente grato a todos que fizeram parte dessa minha trajetória e que me ajudaram a chegar até aqui.

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