25 01 SBCAT ClaudioJAMota NotíciaNatural do Rio de Janeiro, cursei o ensino médio em colégios públicos do interior, quando descobri meu amor pela Química e decidi prestar vestibular para Engenharia Química, sendo aprovado para cursar na Universidade Federal do Rio de Janeiro, o que considero meu primeiro grande feito profissional.

Minha inclinação para a pesquisa começou no 5o período do curso, quando comecei a Iniciação Científica no Instituto de Química na área de mecanismos de reação. O Mestrado foi, também, cursado no IQ-UFRJ, dando prosseguimento aos estudos sobre mecanismos de reação.

Ingressei por concurso no CENPES-PETROBRAS, para uma vaga na área de catálise, onde permaneci por 11 anos. Minha formação em catálise se deu no ambiente do CENPES, convivendo com diversos profissionais renomados da área, tanto do país como do exterior. Após finalizar meu Mestrado, decidi continuar os estudos de Doutorado, ainda no IQ-UFRJ, mas com tese focada em catálise. O trabalho de tese versou sobre estudos pioneiros sobre o mecanismo de formação de carbocátions sobre zeólitas, tendo publicado meus primeiros artigos internacionais nesta época. Estes estudos levaram, também, a colaborações internacionais e foram um passaporte de transição entre a físico-química orgânica, base de minha formação na Iniciação Científica e Mestrado, para a catálise, área que escolhi para minha atuação profissional.

Ainda na época do CENPES comecei a participar do Programa CYTED, que envolvia a colaboração científica entre os países ibero-americanos. Atuei como ponto focal em catálise computacional por cerca de 10 anos, onde fiz diversas colaborações, uma delas com o Prof. Alejandro Ramirez, do México, e que rendeu o Prêmio TWAS outorgado pela Academia Mexicana de Ciências ao melhor trabalho de colaboração internacional.

Em 1997 iniciei minhas atividades acadêmicas como professor concursado do Instituto de Química da UFRJ, dando início ao meu atual grupo de pesquisa (https://larhco.iq.ufrj.br/). Na Universidade, pude ampliar a área de atuação em catálise e estabelecer novas parcerias de pesquisa, tanto no Brasil como no exterior. Os primeiros anos foram focados na continuação das pesquisas sobre mecanismos de reação sobre zeólitas que realizava no CENPES. Também atuei no desenvolvimento de catalisadores para craqueamento, alquilação e conversão de gás natural, com financiamento de empresas, e que ajudaram a montar o parque de equipamentos e infraestrutura do grupo. Gradativamente percebi que o futuro apontava para a sustentabilidade e comecei a atuar em conversão de biomassa, sobretudo a glicerina oriunda da produção de biodiesel.

As pesquisas sobre conversão de glicerol logo se tornaram referências em todo o mundo, destacando-se o desenvolvimento de aditivos para combustíveis e um catalisador para a hidrogenólise seletiva de glicerol a propeno. Este último estudo foi realizado em parceria com uma petroquímica brasileira, tendo sido pioneiro em todo o mundo. Além dos diversos artigos científicos publicados e patentes depositadas, foi publicado um livro internacional, que é referência no tema: “Glycerol: A Renewable Feedstock for the Chemical Industry”. Os trabalhos em química do glicerol me agraciaram com o Prêmio ABIQUIM de Tecnologia e o Prêmio Fernando Galembeck de Inovação da SBQ.

Outros estudos sobre conversão de biomassa envolvem o desenvolvimento de catalisadores heterogêneos básicos para produção de biodiesel e condensação de furfural, catalisadores zeolíticos para conversão de etanol e catalisadores para conversão direta de açúcares em ácido levulínico e levulinatos.

Dando um passo ainda maior rumo à sustentabilidade, iniciei a cerca de 12 anos atrás pesquisas sobre conversão catalítica de CO2. Desenvolvemos estudos sobre hidrogenação de CO2 a metanol, dimetil éter (DME) e hidrocarbonetos, sobretudo olefinas leves, buscando catalisadores mais ativos e seletivos. Também realizamos estudos sobre a produção de carbonatos orgânicos, tanto via reação de CO2 com álcoois como com epóxidos. Os desafios nesta área são enormes, muitas vezes não se restringindo ao desenvolvimento do catalisador apenas, mas também de estratégias para deslocar o equilíbrio reacional. Recentemente, iniciamos estudos sobre captura de CO2 por adsorventes básicos, oriundos de biomassa. As pesquisas têm sido conduzidas com financiamento de empresas da área de petróleo e petroquímica e de agências de fomento, inclusive através de uma parceria com a Universidade de York, que conta com recursos da Royal Society, do Reino Unido.

Participei da diretoria da SBCat, como tesoureiro, na gestão 2003-2005. Fui, também, coordenador da Regional 2 em dois mandatos, de 2015 a 2019. Fui presidente da Comissão Científica do 12o Congresso Brasileiro de Catálise, em 2003, e da 16a Conferência Internacional de Zeólitas, realizada no Rio de Janeiro em 2016. Também tive a oportunidade de organizar, com a chancela da SBCat, o 17o Simpósio Internacional de Catálise Ácido-Base, em 2017, e a 16a Conferência Internacional de Utilização de Dióxido de Carbono, em 2018. A organização destes eventos internacionais foi muito gratificante, pois permitiu trazer ao Brasil importantes cientistas da área, que certamente motivaram muitos estudantes com suas palestras e trabalhos.

Tenho na catálise minha grande motivação profissional; com a possibilidade não só de fazer ciência e publicar artigos, mas, sobretudo, fazer esta importante ligação entre a academia e a indústria, já que muitos dos desenvolvimentos de laboratório podem se tornar processos industriais. A catálise é a ponte entre a ciência e a tecnologia, entre o artigo científico e a patente, entre a pesquisa fundamental e a aplicação industrial.

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