Nascida em São Paulo, mas baiana de coração, mudei-me para a Bahia aos 4 anos e lá fiquei até os 22, usufruindo da beleza natural e cultural que só a Chapada Diamantina proporciona. Até meus 15 anos, estudei na pequena cidade de Iraquara que tinha como tradição enviar seus estudantes à Salvador para aprofundar nos estudos. Tal fato atrelado ao incentivo constante do meu pai em relação à importância da educação motivou-me a ir atrás de um ensino potencializado. A decisão de cursar química veio a partir da admiração de uma professora, Cristina, que lecionava aulas voltadas à química de um modo ímpar, fazendo-me apaixonar por essa área e ingressar no Curso de Química da UFBA, turma de 99.
Sempre fui uma criança curiosa e na faculdade não seria de espanto que essa característica continuaria presente. Como fui a primeira pessoa da minha família a ingressar no ensino superior, o começo do curso foi um grande desafio, todavia, isso não atrapalhou minhas buscas por uma bolsa de Iniciação Científica e, quando a achei, o foco foi em Química Analítica, sob orientação do Professor Dr Sérgio Luis Costa Ferreira. Nesse período, a certeza que me circundava era de que seguiria carreira acadêmica em analítica... Mal sabia que a catálise seria minha verdadeira vocação. Seguindo as lógicas de vida e abraçando a origem que me fez seguir a área da Química, o motivo que migrei para a catálise foi novamente fomentado por uma professora Dra Maria do Carmo Rangel, que me entregou a chave de um novo mundo que faria mais parte de mim do que o esperado.
À época, como mencionei, o plano era encaminhar um mestrado em analítica logo após a graduação, mas como proferido por Shakespeare, “O amor é como a criança: deseja tudo o que vê” e, comigo, não foi diferente. Próximo a formatura, comuniquei aos meus colegas que me mudaria para São Paulo, pois, meu atual marido, havia me pedido em casamento. Esse comunicado chegou aos ouvidos da professora Maria do Carmo, que me convidou para concorrer à uma vaga para bolsista DTI/CNPq, na empresa Oxiteno, mas, o meu plano inicial era um Mestrado no IPEN. Bom esse ano completa 20 anos que estou na indústria, então, a escolha foi o ramo industrial o que, felizmente, não me afastou da área de pesquisa.
Na indústria, encontrei minha mentora e chefe que me auxiliaria nessa jornada, me impulsionaria a continuar na pesquisa e aumentaria minha paixão pela catálise, Valéria
Perfeito Vicentini, que contribuiu muito com meu aprendizado e conhecimento da catálise. Deste modo, não abrindo mão do trabalho da indústria, iniciei meu mestrado em catálise na Engenharia Química da UNICAMP em 2010 orientada pelo professor Dr. Antonio José Gomez Cobo, desenvolvendo catalisadores de Ru/C aplicados à reação de hidrogenólise de açúcares, dentro do conceito de biorefinaria e sustentabilidade. Seguindo essa sede por conhecimento, em 2016 inicie uma nova jornada, retomando uma escolha do passado com o plus de continuar trabalhando na catálise: iniciar o Doutorado no IPEN. Lá, no CCCH, sob a orientação do Dr. Estevam Vitorio Spinacé, desenvolvi catalisadores de Pt/CeO2 destinados à reação de CO-PROX dentro da tecnologia de células à combustível. Pelo fato de poder conciliar o trabalho na indústria e pesquisa acadêmica, tive a oportunidade de crescer na minha carreira alinhando o melhor dos dois mundos, o que, invariavelmente, contribuiu e contribui para minha formação como química, pesquisadora e, acima de tudo, para meu entendimento do poder do conhecimento sob nossas percepções de mundo.
Em 2023 tive a grande honra de assumir a posição de Gerente do Centro de Desenvolvimento de Catalisadores da Clariant, até então ocupado pela Valéria Perfeito Vicentini, que decidiu se aposentar. Fui construindo minha carreira degrau por degrau, entendendo que a busca por conhecimento é infinita e, enquanto aprendemos, criamos dúvidas paras os futuros e inevitáveis questionamentos.
Assim, por conta dessa jornada, pude trabalhar em diferentes linhas de pesquisa da catálise heterogênea, expandir meu conhecimento, além de conhecer centros de excelência na área de catalise em outros países, como Estados Unidos e Alemanha. Em síntese, deixo aqui meu maior agradecimento a todos os professores que fizeram parte da minha jornada e me impulsionaram a ser o que sou e um incentivo a jovens pesquisadores que buscam seguir essa área. A jornada parece longa, mas no final, como dizia Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se alma não é pequena.”