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19 04 SbCat noticia QuemSomosJoãoGuilhermeNo colégio quando ouvia falar em catalisadores não tinha a dimensão da importância desses materiais e nem me chamavam tanto a atenção. Durante a faculdade (Ciências – Química), trabalhando no IPEN -SP (antigo IEA), entre 1978 e 1979, eu sintetizava aluminas esféricas para estudar o processo “sol-gel” e pesquisando usos para esses materiais comecei a tomar ciência do emprego dessas aluminas como catalisadores ácidos ou como suportes de catalisadores. Nessa mesma época comecei a ouvir falar de zeólitos que eram utilizadas no craqueamento de petróleo.

Em 1980 um colega de classe (Florindo) da graduação em Ciências – Química, me falou que estava indo trabalhar no IPT-SP com processos catalíticos e me mostrou uma matéria na Folha de São Paulo, na qual o Eng. Kenji Takemoto falava de aluminas para produzir etileno (hoje chamado de etileno verde) a partir de etanol no âmbito do Projeto JICA.

Aquela reportagem me marcou muito. Meu interesse pelo assunto começou a crescer e, procurando por informações sobre pós-graduação no IQ-USP, eu vi um folheto do Laboratório de Catálise da Universidade do Texas e após estudá-lo decidi que aquele seria meu destino na pós-graduação. Entretanto, para ir para aquela Universidade era necessário ter um ano a mais de escolaridade (16) e então após me formar Química (licenciado e bacharel) me matriculei no ano seguinte (1981) no curso Química Industrial. Minha estratégia era aproveitar para estudar inglês e juntar algum dinheiro. Para isso, comecei a dar aulas pela manhã em alguns colégios da cidade de São Paulo em alguns dias por semana. E para completar minha grade, comecei em janeiro a fazer estágio no Laboratório de Catálise do IPT uma tarde por semana.

Quando chegou em julho daquele ano eu desisti de ir fazer pós-graduação no exterior, tranquei a matrícula na faculdade, parei com o estágio no IPT e comecei a trabalhar num laboratório farmacêutico no horário de 14h00 às 22h00, continuei com as aulas de manhã.

Na metade de agosto ocorreu uma oportunidade histórica daquelas que mudam a vida de uma pessoa: o IPT abriu uma vaga para assistente de pesquisa no Laboratório de Catálise. E não tive dúvidas, me candidatei e entrei no IPT em setembro daquele 1981. Destranquei o curso de Química Industrial, o qual fiz com interesse (descobri que o aproveitamento é muito melhor quando não se tem a preocupação em tirar boas notas – elas vêm naturalmente).
A pesquisa aplicada que era desenvolvida no IPT sempre me realizou porque eu via muito sentido em tudo o que eu fazia. Trabalhei em dezenas de projetos com indústrias e poucos com agências de fomento. A pesquisa básica que era feita servia para embasar projetos aplicados. Contávamos com a orientação e auxílio de pesquisadores japoneses vindos pelo Projeto JICA para desenvolver a rota da síntese da amônia. Se fosse uma história, vários capítulos deveriam mencionar o papel do Prof. Martim Schmal que nos ensinou muitas coisas e participou sem dúvida da formação de muitos outros brasileiros.

Cabe lembrar que na década de 80, colaboramos marginalmente e acompanhamos a evolução e crescimento do Grupo de Catálise do IBP até a fundação da SBCAT.

O principal foco do IPT durante algum tempo era substituir importações e houve muita demanda por esse tipo de serviço até o meio da década de 90 quando houve uma diminuição do protecionismo do mercado e uma diminuição da demanda por parte de indústrias e de uma certa forma um aumento da concorrência, uma boa notícia, por parte dos vários grupos que estavam nascendo pelo pais. Durante esse tempo, nosso laboratório foi bastante visitado por vários pesquisadores do país e contribuiu à sua maneira para a disseminação da catálise pelo país. Vários dos pesquisadores do IPT conhecidos de todos da comunidade foram para a indústria e se destacaram na área como tais como Engo. Kenji Takemoto e a Enga. Valéria Perfeito Vicentini. Outros saíram da área ou se aposentaram.

A capacitação em conduzir e realizar projetos de pesquisa foi mantida, mas fomos impelidos a estudar outros assuntos. Durante minha estada no IPT obtive meu mestrado na EPUSP onde cultivei várias amizades com o pessoal da USP e vários professores da UFSCar que estavam obtendo o doutoramento. Posteriormente, fiz o doutorado estudando um tipo de catálise em fase sólida que ocorre em reações de silício com cloreto de metila (processo Rochow) da rota de obtenção de silicone.

Trabalhei em projetos de adsorção notadamente no desenvolvimento de material para separação de O2 e N2, uma zeólita FAU-X (fizemos 200 kg desse material) e distribuímos para alguns colegas que nos solicitaram.

Para atender às demandas do mercado estudamos polimerização (catiônica e radicalar), síntese orgânica e ajudamos o desenvolvemos vários processos industriais para micro, pequenas, médias e grandes empresas. E em vez de tentar desenvolver o conhecimento básico, passamos a trabalhar em parcerias com grupos da universidade.

Os anos 2000 foram muito intensos, os temas da reforma de etanol, da economia do hidrogênio e das células a combustível ganham destaque e começamos a nos interessar pelo tema e até tentamos colaborar com um consórcio internacional (Excelsis – Daimler- Chrysler- Benz -Ballard-Ford) para avaliar reformadores de etanol. Mas, com o falecimento do governador Mario Covas, o tema foi para nível federal e seguiu outro rumo. Voltei a lecionar, desta vez no curso de mestrado profissional do IPT onde comecei a orientar mestrados com temas aplicados. O IPT sentiu necessidade de aumentar o portfólio de pesquisa básica, e em cooperação com o IPEN, participamos na Rede de Células a Combustível PEM e no âmbito do programa de Novos Talentos do IPT, orientamos um doutorado (o Marcelo do Carmo, hoje em Jülich) cujo tema era otimizar a interface tripla entre nafion-catalisador-grafite no qual foi desenvolvida a inserção de cabeleiras condutoras de prótons no suporte do catalisador resultando num ganho de 50 % no desemprenho eletroquímico resultando em deposito de patentes várias publicações.

Além de atender às demandas variadas das indústrias que recorriam ao IPT, começamos a estudar a aplicação de catalisadores para processos de química verde que estarão em biorefinarias no futuro. Comecei a estudar reações de açúcares em ácido levulínico.

O maior projeto que participei no IPT foi o projeto conceitual de uma planta piloto de gaseificação em reator de fluxo de arraste (entrained flow gasifier) de bagaço de cana e derivados tais como bio-óleo, bio-lama e bagaço torrefado. Nesse projeto atuamos junto com mais de 40 pesquisadores de vários laboratórios e setores do IPT nos dedicamos a estudar cada parte da implantação do processo. Nossa tarefa nesse projeto foi a purificação e tratamento do gás de síntese. Infelizmente as indústrias que participariam do projeto de construção da planta piloto desistiram. O financiamento do BNDES seria da ordem de R$ 100 milhões.

Resolvi então ir para a FEI (Centro Universitário da FEI) atendendo ao convite do Prof. Ricardo Belchior Torres para participar no curso de pós-graduação.

Aqui na FEI tenho me dedicado mais à pesquisa básica, a formação de pessoas e transmitir parte da minha experiência para os estudantes. Também participo de alguns projetos de cunho tecnológico muito estimulantes tais como o H2020/FAPs que é um projeto conduzido por várias instituições e empresas nacionais e europeias. No Brasil o projeto é dedicado ao estudo da obtenção de bio-querosene de aviação a ser obtido de gaseificação de biomassas levando em conta várias etapas começando pela logística do plantio, colheita e manejo da terra. Na Europa o foco principal é basicamente à obtenção de biogás usando fontes semelhantes. Também participo do projeto Rota 2030, junto com outras instituições nacionais onde o objetivo é produzir um protótipo de um reformador embarcado de etanol para geração de mistura rica em hidrogênio com a finalidade de aditivar a combustão do etanol elevando sua eficiência energética.

Na sociedade brasileira de catálise (SBCAT) tenho muitos colegas e amigos e colegas que admiro e me inspiram a continuar lutando pelo desenvolvimento do país e do planeta.

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